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Hora e vez dos cardeais

Passados quase 140 anos, desde que se anunciou a abolição da escravatura no Brasil, conclui-se com a frustração do propósito da chamada Lei Áurea. Fato inconteste, pessoas continuam a ser escravizadas, sem que os novos senhores de engenho, capitães-do-mato ou coronéis de barranco recebam o tratamento merecido - a punição rigorosa pela prática do hediondo crime. Ao contrário, junto com o frequente flagrante da existência de escravidão, podem-se também constatar benefícios oferecidos pelo poder público aos criminosos que a mantêm. Mais uma prova, apesar de dispensável, da iniquidade e dos valores desumanos característicos da forma de exploração do homem e da natureza, como a temos testemunhado. Alguns dirão, como têm dito em relação a outros fenômenos e práticas igualmente repulsivos, que esse é o preço a ser pago pelo desenvolvimento. E a desigualdade cresce, aumentando o fosso entre os que tudo têm e mais querem, e os outros, explorados do único bem de que são possuidores, a força de trabalho. A avidez, a ganância e a voracidade, peculiares ao processo de acumulação como o conhecemos, determina alterações nas formas de controle e apropriação dos resultados econômicos. Tais alterações, todavia, não resolvem os problemas dos trabalhadores, nem seria mais que ingenuidade (se não coisa pior) esperar isso. É da essência do capitalismo que decorrem as práticas do sistema econômico, fundado, nesse caso, na ambição, na desigualdade e no desprezo por valores éticos e visão do mundo. Mais grave, ainda, alimentado por falácias de que a competição é de algum modo benéfica ao processo civilizatório. Não é isso o que se tem visto. Cresce a desigualdade, em escala planetária, crescendo de igual modo os riscos que muitos se negam a reconhecer - a dissolução do tecido social, provocado por guerras muito bem planejadas; e a destruição do Planeta. Pior, ainda, quando o pretexto de defender a tradição judaico-cristã serve de escudo a propósitos tão desumanos. Esta é uma boa hora para tratar disso, quando a maioria dos cardeais escolheu o substituto de Francisco. Um líder religioso que decidiu chamar-se pelo mesmo nome do Papa que fundou a moderna doutrina social da Igreja. Robert Francis Prevost é Leão XIV.

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