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Dilema permanente

Mais do que qualquer outra pessoa, brasileira ou estrangeira, Lula sabia das dificuldades que encontraria para governar. Seu terceiro mandato seria - como tem sido - exercido em um cenário muito diferente que o dos mandatos anteriores. Pelo menos do ponto de vista internacional. O ambiente interno, a despeito de guardar teimosamente muita semelhança com o passado, não está infenso à influência externa, nem consegue estancar certas mudanças aqui e ali registradas. Uma destas, o fortalecimento da extrema direita e a emersão do nazifascismo escondido por longo período. Não faz muito tempo, a criação e multiplicação das células fascistas e nazistas ocorria praticamente à margem da opinião (também da observação) pública. Ninguém, por mais que usasse o Mein kampf como livro de cabeceira, tinha coragem para verbalizar suas convicções ou defender e praticar discurso de ódio e ações nele fundamentadas. A chegada ao Planalto de um indivíduo cujos discernimento, conhecimento e valores não o levariam em condições normais, a mais que liderança de um grupo de segurança de uma pensão de zona do meretrício, terá sido a mais ostensiva mudança no novo cenário. Impossível imaginar que Lula não tenha percebido a influência dessa mudança e o papel que os seguidores do ex-Presidente desempenhariam. Em consequência, o dilema que acompanha o atual Presidente da República torna-se maior e mais grave. Antes, ele tentava - e parece tê-lo conseguido - equilibrar-se entre atender a algumas demandas dos mais pobres e servir à ganância e ao egoísmo das elites. Agora, o discurso de ódio, a indiferença a respeito do sofrimento da maioria da população, o compromisso com a exclusão social e o aprofundamento da desigualdade e a preferência pelo uso da força, em relação ao conhecimento e ao entendimento ocupam amplo espaço no ambiente político. Percebe-se a dificuldade em levar a maioria das pessoas sensíveis às ideias e palavras dos que se dizem conservadores. Mesmo que se veja absurda a ideia de conservar a sociedade que está nos primeiros lugares dentre os líderes da desigualdade, muitas das vítimas dessa situação permanecem fiéis ao discurso discriminatório. Tudo isso pressiona o tri-governo de Lula a ficar preso ao dilema que parece uma - talvez a única - constante no cenário: contentar os apetites privados, enquanto oferece pequenos benefícios aos mais pobres. O que não levará a qualquer outro resultado, que não seja conservar e talvez tornar maiores as diferenças entre uns e outros.

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