Antes que se repita
- Professor Seráfico
- 3 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Nélson Rodrigues, um direitista que pensava, elaborou um conceito que parece perseguir grande número de brasileiros. Mesmo os que não podem ser incluídos no rol dos portadores do complexo de vira-latas concordam com o autor de Vestido de Noiva e Bonitinha, mas ordinária. Os outros, acometidos de profunda e baixa auto-estima, não perdem a oportunidade de revelá-la. Às vezes, esquecendo virtudes que muitos outros povos consideram invejáveis; outras vezes, atribuindo virtudes a evidentes más qualidades de que outras sociedades são titulares. Óbvio que sempre haverá um cálculo entre ganhos e perdas. Onde - e quando - é melhor ostentar seu complexo, tudo dependendo dos valores (não os valores morais, esclareço desde logo) envolvidos. Neste caso, como se tem sabido, pesam não só a moeda, sonante ou titulada, como prebendas de outra natureza. Um carguinho público ou o direito de carregar a maleta do poderoso de plantão. De qualquer modo, comportamento menos que provinciano, porque intimamente ligado ao prazer de saber-se colonizado. Às vezes, a foto em companhia quase sempre má, dos mandantes do período. A esse complexo que o cronista e teatrólogo pernambucano criou, logo juntou-se a sentença definidora das más qualidades de boa parte dos brasileiros. A expressão que a define diz que quem não puxa-saco um dia puxará carroça. Mais miserável que isso, impossível! Pois é... Assim, se não faltou um Joaquim Silvério dos Reis para fazer o aborto da Inconfidência Mineira, não faltam os que rendem homenagens à sociedade mais belicosa do Planeta. Aquela onde as grandes crises políticas se resolvem à base da bala. Mesmo que a audácia, quase ausente, não leve os promotores da violência e da morte de seres humanos a se autodenominarem como os seus símiles abaixo da linha do equador. Aqui, porém, o triunfo da bala é festejado com estrépito e certo ar de superioridade. Vale mais, quem mais mata. Pois são esses mesmos, dos quais alguns acabam por enredar-se com as autoridades policiais, judiciais e penitenciárias, que veem na sociedade em que Abraham Lincoln, John Fitzgerald Kennedy e seu irmãos Bob Kennedy, Martin Luther King, foram mortos a tiros, modelo de democracia a ser imitado. A mesma sociedade em que distinguir entre um democrata e um republicano, nenhum deles correspondendo ao título do partido a que se vincula, é tarefa de que nem Sherlock Holmes ou Hercule Poirot dariam boa conta. Não é de admirar, portanto, que Joe Biden, no ocaso de seu governo, agrida o senso comum, a moralidade pública e os bons costumes, ao transformar o filho Hunter (o nome não poderia ser mais apropriado) em um pecador arrependido. O exemplo de lá, prosperando aqui, nada tem de edificante ou diferente. As famílias, transformadas no que os entendidos em certas atividades criminosas chamam famiglia. Falece qualquer razão para que se chame democracia a um estado que usa o poder e recurso público, seja em termos humanos, tecnológicos e financeiros, para proteger os descendentes dos que um dia passaram pelo poder. Uma razão a mais para cobrarmos, com a insistência e o rigor necessários, a punição do terrorismo praticado em 08 de janeiro de 2023 e todo o processo de que ele é o resultado. Se não vier mais...
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