Seguem firmes as dúvidas sobre os motivos que levaram o triPresidente Lula a recomendar silêncio a respeito do golpe de 1964. Nada de rememorá-lo e, em especial, rememorar a tragédia em que se constituíram os 21 anos de sua vigência. Deve saber o Chefe do Poder Executivo (logo ele!) porque veio do Planalto tão estranha recomendação. Nós, os da planície, que tratemos de interpretá-la, à luz do que experimentamos ou sabemos daquele tenebroso período de nossa história. Medo, habilidade, prudência ou o que mais possa ser apresentado como fundamento da decisão de Lula, não vem ao caso discutir. Interessa, sim, ler o que dizem ou escrevem muitos dos que acreditam na absoluta necessidade da memória, venha ela cercada de festividades que traduzimos por comemoração; venha ela embalada em um pacote de simples (às vezes triste) rememoração - como é bem o caso. Da primeira, basta um texto publicado pelo Clube Militar (sempre ele!), repetindo o dar de ombros para as más consequências do golpe e festejando a trágica situação imposta a este resistente país integrado por mais de duzentos e quinze milhões de almas. Não nos imiscuamos na luta entre armas e almas.
Encontro em Revistaopera.operamundi.uol.com.br, interessante artigo da autoria de Pedro Marin - 1964:cinco lições do golpe militar para o presente, 01 de abril de 2024. Pedagógico, se não pouco de lição poderia conter, a análise de Marin distribui a lição em cinco tópicos que tornam mais fácil a compreensão das relações políticas e do jogo do poder por ele analisadas. O primeiro desses itens diz respeito a quem ignora o passado anda com a guarda baixa. Resumo: desconhecer o ontem pode fazer-nos repetir os erros cometidos e favorecer sua repetição. Aí, então, como tragédia. No segundo tópico, Marin lembra que o golpismo seduz também com o legalismo. Resumo: dizer que tudo será mantido dentro das quatro linhas não equivale a garantir que a ordem legal (a partir da Constituição) será mantida. É adequada a abordagem de nossa tradição golpista ou folha corrida do golpismo, nos termos em que o autor a faz, em seu terceiro momento: Muitos cenários devem ser considerados; os piores não devem ser desprezados. Resumo: Não é só uma a hipótese contemplada pelos golpistas, podendo até a pior delas ser a preferida. Lógico que as contas aí são feitas segundo o critério em que se baseia todo e qualquer comércio - o quê e quanto ganho ou perco? Não raro, a melhor hipótese para o golpista será a pior para os golpeados. O quarto item põe a burocracia em foco e diz que ela é meio por excelência do golpe, não da resistência. Resumo: a própria inércia da burocracia favorece a inação, conduta absolutamente incompatível com quem deseja defender-se do ataque inimigo. Nunca se esqueça dos valores cultivados na máquina oficial do Estado. Talvez surpreenda a alguns a quinta lição observada por Marin: O golpismo também negocia. Resumo: Para o golpista, a chegada ao poder tem a mesma função que as estrelas desempenharam, na viagem dos reis magos. Vale tudo, portanto, para atingir o objetivo desejado. Nem sempre os negócios são feitos sob o guarda-chuva da Lei. Às vezes, aproveitam algum desvio que as más línguas chamam negociata. Não resisto. Ao resumo acrescento o exemplo: até os escrúpulos são ostensivamente (porque muito antes já se tinham removido) mandados às favas. Como no 13 de dezembro de 1968 e o parto da maior criação teratológica do Direito - o Ato Prostitucional (como o chamava meu advogado, Alarico Barata) número 5.
Melhor ir direto à fonte. Mais será aprendido.
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