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A democracia de uns quantos

Fico entre a absoluta indiferença, a improdutiva indignação ou o deboche escrachado. As cenas protagonizadas pelo justiceiro Luiz Datena e seu igual Pablo Marçal não são menos que materialização do clima conscientemente produzido pelos apoliticos que fingem tudo ignorar. Fora de sua ignorância generalizada, esses supostos estranhos no ninho, na verdade conhecem e sabem muito bem como se aproveitar da igual ignorância e - em maior dose, ainda - das mentiras que são capazes de inventar e divulgar. Desde que isso lhes proporcione o benefício desejado. Há, portanto, o uso de oportuna e lucrativa ignorância, jamais em proveito da coletividade. Encarar os fatos produzidos e envolventes de indivíduos desse jaez como algo tolerável será legitimar seus protagonistas. O observador torna-se, então, cúmplice dos atores em cena. Preferível seria passar ao largo, deixando que os fatos sumam, como se espere desapareça a fumaça que serve de cobertura ao Brasil incendiado. A indignação, por desmoralizada no cenho cuidadosamente ostentado pelos que mais se destacam na produção do clima absurdo e surreal dos acontecimentos, não seria alternativa reação de melhor qualidade. Resta o deboche, tão escrachado quanto o possa ser. Arma dos melhores humoristas, em todos os tempos, rir a bandeiras despregadas (como se lembram os da minha geração), corresponde, em grau de seriedade, à pobreza ética e à miséria moral dos protagonistas. Levá-los a sério não cabe aos políticos, muito menos aos eleitores. É aos investigadores, policiais de todos os níveis e agentes presidiários que dizem respeito o passado, o presente e o futuro de gente como Datena, Marçal e assemelhados. A democracia sabe como dar conta dos que desdenham do Estado de Direito. Em que pese a falta dos que a operem com fidelidade. E, sobretudo, sinceridade e discernimento.

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