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Foto do escritorProfessor Seráfico

Vetos e votos

A sanção presidencial à Lei de Meios para 2021(equivale dizer a Lei do Orçamento da União) reafirma as preferências e propósitos do chefe do Poder Executivo. Entre facilitar o combate à covid-19, reservando recursos para as ações exigidas na luta contra o mal, o Presidente da República optou por vetar o dispositivo correspondente, fixado no projeto aprovado pelo Congresso e tornado lei. Não só isso. O veto à reserva de recursos para equipar nosso arsenal de guerra foi rejeitado. O que o Ministério da Saúde não terá, tê-lo-á o Ministério da Defesa, a despeito da manifestação e do Congresso Nacional. Mesmo que nada haja de desvio dos rumos anunciados na campanha eleitoral, todo dia reiterados desde 1 de janeiro de 2010, a população - ao menos os cidadãos menos ignorantes e menos fanatizados - poderia esperar algo diferente. A pandemia com a qual convivemos desde março de 2020 e que já se encaminha para deixar marcadas 200 mil mortes fazia supor alguma mudança na percepção e no comportamento dos que quase 60 milhões de brasileiros mandaram que nos governassem. É assim nas democracias: à maioria cabe dizer a quem entregará o manche, em voo que nunca se sabe aonde chegará. É quase certo que dentre os eleitores de ontem, muitos dos que aplaudem a tortura, desdenham do sofrimento alheio e têm o mundo como o círculo traçado dos bicos de seus sapatos até o calcanhar, tenham perdido algum ente querido, amigo ou parente. Os números (e aqui não tem como esquecê-los), mostram cerca de 30% fiéis acompanhantes das políticas comprometidas com a morte, não com a vida dos governados. O número desejado de mortes pela ditadura, já multiplicado por 6, ainda não parece bastar aos necropolíticos. Chegamos a tal ponto, que a concorrência se revela, hoje, pelas ação das forças policiais e a covid-19. Os hospitais continuam enchendo-se dos crentes na inocuidade da gripezinha e as balas perdidas. Ainda ontem, uma criança de 5 anos foi morta dentro de casa, na zona Norte do Rio de Janeiro. O veto de hoje mudará o voto, amanhã?

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