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Velhos costumes, novos nomes

O vocabulário dos tempos que vivemos caracteriza-se por impressionante criatividade. Nesta, simbolismo e metáforas capazes por si mesmos de desvendar muito do que pretendem esconder. Ao lado do discurso laudatório e mentiroso que tenta transformar o desempregado em empreendedor, um longo rol de outras monstruosidades. Talvez a mais danosa de todas, a de levar à educação básica lições de um empreendedorismo comprometido com a crescente e escandalosa acumulação. Uma forma de adestramento da submissão de uns, para favorecer o enriquecimento de outros. Desta feita, refiro-me a uma expressão capaz de, em flagrante contundente, revelar o espírito do nefasto período histórico por que passamos. Promovem-se programas de demissão voluntária, escorados em promessas inexequíveis, de que os únicos beneficiários são os patrões. Daí vêm a terceirização, a quarteirização e outras maldades que empurram para cima os lucros e rebaixam a qualidade de vida de crescente multidão de trabalhadores. Os números repetidamente divulgados pelo próprio SEBRAE revelam o fracasso desses mecanismos, diante da taxa de fechamento desses (permitam-me o eufemismo)empreendimentos. Boa parte deles, nos dois primeiros anos desde sua criação. Tenho conhecimento, agora, do que os sábios do mercado já chamam empresas de prateleira. Não é casual saber da existência dessa fraude coberta pela sombra protetora da legislação, em sessão de depoimento da CPI da covid-19, no Senado. Artifício propício à prática de atos ilícitos, todos sob o timbre da corrupção, delas se valem os que têm sempre olhos cúpidos postos nos cofres públicos e dedicam a vida a não perder a oportunidade para assalta-los. Aos crimes de natureza econômica e financeira, muitas vezes também tributária, essas empresas de prateleira acrescentam a perversidade com que são tratados os pobres deste infelicitado país. Basta lembrar a origem de uma tal FIB Bank, cujo berço está no sertão nordestino. Do berço à condição de fiadora de um dos maiores escândalos praticados na administração publica do Brasil, a prateleira de onde o estabelecimento falso mesmo no nome de fantasia saiu, deixou uma vítima na cidade alagoana de Pão de Açúcar. Hoje, o falso banco apresenta-se com capital de R$ 7,5 bilhões, representados por um terreno, móvel como disse a senadora Simone Tebet. A existência de tal propriedade, se constatada, não explica a alegação de localizar-se em Curitiba, mas ter o registro de imóveis em São Paulo. Nem de o espaço ter valor superior ao do Palácio de Buckingham. O depoente do dia 24 de agosto, Roberto Pereira Ramos Júnior, que se apresenta como Diretor-Presidente do que ele mesmo diz ser uma pequena empresa, ganha 4 mil reais por mês. Como é bom viver num país sem corrupção, não é?

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