Leio sobre três jovens e sua resistência, durante a ocupação nazista da Holanda, na Segunda Grande Guerra. A primeira delas, Hannie Schaft, tinha 19 anos e teve que abandonar o curso de Direito, para entregar-se às duras tarefas enfrentadas por todos os que abominam as armas, rejeitam a guerra e decidem defender-se e defender seus semelhantes. As outras duas, irmãs Oversteen, Freddie (16 anos) e Truus (14 anos), desde cedo produziam bonecas para serem enviadas às crianças espanholas, durante a Guerra Civil que conhecemos mais pelo talento de Picasso - a tela Guernica diz mais que milhões de palavras, escritas ou proferidas. A mãe delas, militante das causas humanitárias, orientava-as. Pois quando os nazistas ocuparam seu país, as três amigas decidiram resistir. Tente o leitor dimensionar o tamanho do esforço e os óbices à compreensão de mulheres trazerem para si tarefas tão duras! Estávamos ainda na primeira metade do século XX! Como o fizeram? Em primeiro lugar, deram preferência a combater os traidores holandeses. Os outros, invasores, ficariam para depois. Como o fizeram? Fazendo do coração tripas, entregaram-se à eliminação dos traidores nascidos em sua mesma terra natal, sob artimanhas de que só o amor ao próximo (como não?)justifica. Para as três teria sido impossível viver e testemunhar pessoas criadas no mesmo solo e formadas com os mesmos valores, colaborando com os que desejavam - e tudo faziam para isso - matar seus irmãos. A dor por elas sentida tem registro histórico. Primeiro seduzidas pela oportunidade de provocar a destruição de meios de comunicação do inimigo feroz, depois elas acabaram sendo chamadas a levar os perigosos inimigos internos aos bosques e arredores onde deles davam cabo. Pode-se ter reservas sobre a legitimidade de alguém roubar a vida de outrem. Matar é crime, desde séculos, milênios, quem sabe. Há, no Direito Moderno, o que se chama estado de necessidade. O relato sobre as três amigas holandesas bem se enquadra nele. Poucos dias antes de a Holanda ser libertada, Hannie foi executada. Era 10 de maio de 1945. As outras duas morreram em 2016 (Truus) e 2018 (Freddie). Desde 1996, funciona naquele país europeu a Fundação Hannie Schaft, criada para manter viva a chama de Vida que a conduta das três amigas revelou. Alguns dirão serem elas heroínas. Rejeito essa classificação. Elas foram, sobretudo, seres humanos dignos desse título. Sempre reverenciados, ainda mais quando parecem espécie em processo de extinção.
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