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Torço por errar

Quarenta e oito horas depois de agredir as instituições e enxovalhar o Estado Democrático de Direito, o Presidente da República assina o que muitos consideram uma carta de rendição. A diferença entre o número esperado de participantes das hostilidades e os efetivos protagonistas dos atos agressivos, pouco importa. O tom e o clima das manifestações custeadas com o dinheiro de todos determinaram reação que há muito já se deveria ter registrado. Os episódios de 7 de setembro não contiveram qualquer novidade, tão costumeira a prática promovida, estimulada, convocada e mantida pelo Presidente da República. Aturdiam a grande maioria dos cidadãos brasileiros o descuido, o desinteresse e a leniência com que os outros poderes republicanos vinham tratando os atentados contra a Constituição, o Parlamento e o Poder Judiciário. Isso, mais que tudo, é das causas de termos chegado ao atual estado de coisas, uma crise instalada desde 1 de Janeiro de 2019, no Palácio do Planalto. Em todo caso, tardia mas não desnecessária, a reação do Presidente do Supremo Tribunal Federal, até certo ponto surpreendente, forçou o recuo do presumível candidato ao Consulado. Depois das palavras duras de Luís Fux, seguiu-se reação em cadeia (não há ironia, aqui), até a convocação do golpista de 2016, herdeiro de uma cadeira desocupada pela ação inconstitucional, ilegal, imoral, aética de um conluio de magistrados e procuradores. Talvez os mesmos que depois levaram o beneficiário pessoal daquele golpe à hospedagem em uma penitenciária. A História dirá isso de melhor forma, e com minúcias que aqui não cabem. Importa destacar, apenas, alguns aspectos que o tempo, e só ele, confirmará ou não: 1. Michel Temer, o homem da hora do Presidente, tem contas a prestar à Justiça; 2. O ex-Presidente pode integrar o ministério do atual governo, porque credenciais não lhe faltam, à vista do método em vigor e do currículo ostentado; 3. Se não for ingenuidade, não sei como chamar a expectativa de ver o arruaceiro que planejou levar pelos ares o sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro mudar o próprio comportamento. Oxalá eu esteja errado!

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