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Foto do escritorProfessor Seráfico

Tomando a temperatura

Divirjo da maioria dos críticos que entendem exorbitantes a remuneração dos servidores públicos brasileiros. A começar do Presidente da República, passando pelos membros do Ministério, das Forças Armadas e dos tribunais superiores, considero-os miseravelmente pagos. Não aceito a comparação feita entre eles e simples gerentes de médias e grandes empresas, pagos com maior generosidade. Sendo que muitas dessas organizações ditas do setor privado foram criadas à sombra de uma legislação de incentivos de toda espécie. Além de outros tipos de liberalidade. De qualquer forma, seja o setor produtivo em que se incluam, com a renúncia fiscal e tributária de que não se favorecem os demais cidadãos. Sou rigoroso, no entanto, em reivindicar sejam pagas com valores de vencimentos justos todas as despesas dos servidores públicos, em especial os que defendo sejam mais bem remunerados. Assim, o uso de veículos oficiais seria restrito aos serviços oficiais, nos horários do expediente ou em momentos em que estivesse sendo prestado um serviço à comunidade. Assim, deslocamentos para participar do casamento de um parente ou amigo seriam custeados pessoalmente pela autoridade. Não pelos contribuintes. O veículo particular dessas autoridades seria abastecido com o vencimento delas. Medicamentos destinados ao tratamento desses funcionários, mesmo aqueles que tentam corrigir problemas de disfunção erétil, seriam pagos pelo interessado. A comida da família e todas as despesas familiares (empregados domésticos, inclusive) onerariam os bolsos dos beneficiários diretos, não o de todos os contribuintes, como é agora. Escrevo tudo isso, para dizer de minha estupefação (inadmissível, quando se passou dos oitenta anos de idade) com a informação de que o Ministério da Defesa gastou mais de R$ 60.000,00 na compra de adegas para os hotéis de trânsito mantidos em várias cidades brasileiras. Não me traz perplexidade a aquisição, muito menos o seu preço. Nem me incomoda que os militares usuários de tais estabelecimentos gostem de beber bom vinho, na temperatura adequada. Causa-me estranheza saber que nesses hotéis também possam hospedar-se terceiros, sem qualquer vínculo com o serviço público brasileiro. Acho tolerável que personalidades militares, científicas, acadêmicas e estadistas de outros países possam hospedar-se nesses (assim chamados) hotéis de trânsito. O que não sabia, entretanto, é da locação de cômodos a terceiros, mediante pagamento. Como em toda a rede hoteleira. O trânsito aposto como qualificação do estabelecimento faz referência à intensa mobilização de profissionais das armas, de uma a outra cidade do País. Isso, parece-me compreensível. Não o é, todavia, imaginar que alguns dias sem o bom vinho e à temperatura recomendada possa pôr em risco a saúde dos camaradas. E se lembrarmos que há postos de saúde, Brasil adentro, sem equipamentos – como refrigeradores para conservação de vacinas, por exemplo – necessários à boa saúde da população?

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