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Teatro do absurdo

Teatro do absurdo


Quando se deseja falar de algo absurdo, costuma-se dizer que não haverá surpresa se um boi for visto voando. Com a reiteração de atos, conceitos e situações beirando a fantasmagoria, o impacto da expressão vai-se perdendo no tempo. Como este, também parece ter-se tornado liquida, desfazer-se no ar. Políticos, lideranças supostamente religiosas, empresariais e intelectuais, representantes populares, governantes de todo escalão esmeram-se em produzir material de que Ionesco, Salvador Dalí, Castañeda e Durënmatt jamais teriam sequer cogitado. Parecem todos viver num mundo paralelo, de que não conhecem qualquer limite, pondo em suas palavras, gestos e esgares, decisões e ações tudo o que lhes determinam a vontade, o egoísmo e os interesses. Prevalece neles o ganho fácil e rápido, de preferência sem a perda de uma só gota do próprio suor. Alguns comparariam tal conduta ao conhecido pacto com o diabo. Para isso, certos pruridos morais (o roto argumento do interessado) não podem ser levados em conta, a despeito do pus fedorento que também esse tipo de prurido produz e exala. É o virtuoso homem público lançando fel e veneno sobre os de quem discorda, ao mesmo tempo em que canta loas aos seus bandidos preferidos. Sequer se preocupam que entre os adversários e os objetos de sua louvação a diferença está no tempo, não no ato. Sobre um lado e o outro pesam denúncias e suspeitas semelhantes, na substância, na gravidade e nas consequências lesivas ao interesse público. Nada disso conta, porém, na avaliação desses catões de bordel – se eu não estiver ofendendo a generosa fauna humana que habita ou visita esses lugares em extinção, não porque as práticas se tenham alterado. Leiam-se os jornais impressos diários, e lá encontraremos abundantes exemplos dessa conduta oportunista, desonesta, a confirmar quanto a ovelha pode esconder em sua lanosa pele tisnada a má índole e a sujidade do lobo. Se não for da hiena. Ibsen e todo o seu teatro perderiam diante desses infelizes atores do absurdo.

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