Orlando Sampaio Silva
Nasci em 1932.
A partir dos sete anos de idade,
em 1939,
tornei-me testemunha ativa
da história dos humanos,
a história que transcorria ante meus olhos e ouvidos,
nos jornais, no rádio, no cinema
e nas conversas entre as pessoas.
Desde 1930,
nosso povo vivia sem liberdade,
sob a Ditadura Vargas.
Em 1939, a humanidade mergulhou
nos horrores da II Grande Guerra.
Em 1945, enfim, a vitória
da paz e da liberdade,
com o fim da Guerra Mundial
e da ditadura do Estado Novo.
Vivemos, então, os anos dourados,
a liberdade floresceu.
Brasília foi construída.
Porém, em 1964, novo episódio de força
subtraiu do povo, mais uma vez,
a liberdade: o golpe militar
e a ditadura, que durou mais de 20 anos.
Porém, a luz das liberdades democráticas
nos reiluminou em 1985,
e, em 1988, conquistamos nova Constituição
com cidadania plena.
Pelos cominhos incertos da história,
atingimos o dia 1º de janeiro de 2019,
e os brasileiros voltaram a viver
em um cenário de incertezas,
na expectativa de
que destino está sendo desenhado
para a vida de nosso povo
sob a ameaça da anomia
e do esfacelamento de direitos,
e de tantos valores
arquitetados pela ética e pelos éticos
ao longo dos tempos,
em mais uma queda
no abismo do obscurantismo.
Em um voo em direção ao passado,
é possível sentir no Mundo
que estamos sob o risco
da restauração
dos mais tristes e dramáticos episódios
das guerras, da opressão,
das perseguições e da tortura,
do sacrifício das liberdades
e - quem sabe? - da volta das chamas das fogueiras
em que pessoas eram sacrificadas
por serem infiéis, judeus e
“bruxas”,
ou, do tempo em que Jesus
foi crucificado
por ser pobre e não ser romano,
por ser judeu,
por ser um simples artesão, carpinteiro,
por caminhar, pés descalços,
acompanhado de humildes pescadores
e de uma mulher que havia sido prostituta,
e por ter a coragem de
pregar a prevalência
do perdão,
da paz,
da solidariedade
e do amor
entre todos os viventes.
(S. Paulo, 06/01/2019)
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