Em seu Espaço Literário Marcel Proust, o escritor Carlos Russo Jr. dá breves mas esclarecedoras informações sobre o que ele considera o terceiro surto do nazifascismo no Brasil. Vale-se, ainda, de comentários do jornalista Ricardo Kotscho e de matéria colhida em jornais alemães, para traçar a trajetória desse movimento no País. É de 1928 a primeira tentativa, com a criação de células nazifascistas em território brasileiro, todas elas inspiradas pelos mesmos valores anti-humanos que caracterizam o nazismo, lá de onde ele vem: o antissemitismo, o racismo, o nacionalismo exacerbado, o ódio ao comunismo e ao liberalismo, o combate tenaz ao homossexualismo etc. Nessa primeira fase, chama a atenção o fato de as células nazistas brasileiras estarem diretamente vinculadas ao Partido Alemão e serem alemães os dirigentes locais, excluída a possibilidade de um filho de pais nascidos na Alemanha ocupar o posto. Aqui, não demorou a surgir a Ação Nacional Integralista, dirigida pelo jornalista Plínio Salgado. A entrada do Brasil na Segunda Grande Guerra imposta a Getúlio Vargas, e a discutível vitória dos Aliados, entretanto, desbaratou o movimento, que definhou até o Partido de Representação Popular, o PRP ser extinto. A segunda manifestação data da ditadura instaurada em 1964. Prosperou a criação de núcleos nazifascistas, reflexo da aproximação de Mussolini e Hitler e os sucessores de ambos, passando o Brasil a ser uma das nações preferidas para acolher os supostos vencidos na Guerra. A Constituição de 1988 barrou mais essa tentativa, sem – como se observa agora – eliminá-la por inteiro. No ensaio, Carlos Russo Júnior destaca fatos ocorrentes no Brasil atual, quase não havendo uma só região incapaz de fornecer evidências de que se trata de um novo surto. Desde o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos da América do Norte, a forma de prender e matar negros passou a ser adotada no Brasil. O joelho no pescoço do perseguido ganhou status de método de trabalho, de que têm resultado mortes lá e cá. No caso brasileiro, chegando a trágico e selvagem assassinato a pauladas, como se viu em quiosque de praia do Rio de Janeiro. Uma particularidade chamou-me a atenção, no relato de Russo Júnior: agora, os nazistas não precisam guardar para os nascidos na Alemanha a missão de dar curso e gerenciar suas desumanas ações. Os seguidores e militantes locais se encarregam de armar, agredir até a morte os que divergem de seus anti-valores, com frequência aproveitando-se de recursos que os próprios cidadãos fazem escorrer para o Erário.
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