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Social ou fiscal?

Lula tem razão, quanto o terá todo aquele que leva a sério a palavra de um andarilho até hoje incompreendido e cujo nome se tem prestado a toda sorte de bandalheira e crime - Jesus. Amar o próximo não se esgota na oferta de esmolas, o tipo mais execrável de oferecer propina. Não apenas aos que ocupam cargos públicos, inclusive mandatos concedidos pelo povo. Nem na manipulação de terços e rosários por mãos frequentemente usadas para apertar o gatilho de uma arma ou limpar o sangue derramado pelos pretos, pobres, quilombolas, indígenas - enfim, a parte integrada ao alicerce da sociedade, por isso que tornada invisível aos que não os querem ver. Quando o Brasil padece ainda a dor pela perda de quase 700.000 vítimas da covid-19 e dos que a ela emprestaram seu apoio, ativo ou omissivo, não há como esquecer os que, sobreviventes, contam-se às dezenas de milhões. Os que levam o Tripresidente eleito a dar a cara pra bater, quando anuncia que o sonho de sua vida haverá de ser cumprido: permitir que à mesa dos famintos não falte a terceira refeição do dia. Desviacionista, a ideia de que a estabilidade fiscal é o que mais interessa neste crucial momento de nossa História, se não destoa da cantilena ouvida faz décadas, não tem mais como ser tolerada. Admiti-lo corresponderia a ver o Estado e seus cofres (estes, para uns, mais respeitados que tudo o mais) com olhar que se nega aos que passam fome. Em resumo, o pior dos crimes que se poderia cometer contra não apenas essa parcela excluída, nem somente avessa aos interesses nacionais, mas sobretudo à própria condição humana. Seria a renúncia expressa à humanidade de que nos pensamos dotados, ainda que a experiência revele serem muitos os graus em que tal condição está presente na sociedade dos bípedes que se dizem inteligentes, considerados individualmente. Uns são mais, outros são menos humanos. Alguns, por suas percepções e propósitos ainda sequer alcançaram o primeiro patamar acima dos outros animais. Atrasados na evolução biológica, permanecem atados às leis naturais, ignorantes absolutos quanto às sucessivas conquistas da sociedade, por isso submetidos às relações predatórias características da barbárie e da selva. O ex-metalúrgico que se prepara para subir pela terceira vez a rampa do Palácio do Planalto pensa diferente. As pessoas, os seres humanos, independente da roupa que vestem, deixados de lado os preconceitos que os inspiram, esquecidas a ideologia e as crenças a que se vinculem, é o que interessa para o Tripresidente eleito em 30 de outubro. Até por que, economia foi feita para servir ao Homem, não o contrário. Vai faltar dinheiro?: De onde se pode tirá-lo, então, se não dos que ao longo de tanto tempo o acumularam, mesmo que para isso tenha sido necessário produzir o vergonhoso espetáculo dos moradores de rua? Quem tem a obrigação, por enquanto apenas moral, de certa moral propositalmente negligenciada, de financiar o resgate de 33 milhões de excluídos, se não os que exploram o trabalho de terceiros e se beneficiam de tudo quanto é negado a estes? Trate-se primeiro de pôr a mesa para o jantar cotidiano desse grande contingente de brasileiros à porta do desespero! Os economistas sabem que isso é possível, melhor que eu.

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