Basílio, bispo da Antióquia dizia ser o dinheiro o esterco da sociedade. Pós-século III, quando ele viveu, o chamado processo civilizatório, qual tsunami invisível, produziu efeitos devastadores em todos os lugares. Até o momento em que, prevista a escassez inevitável em todos os continentes do Planeta, faz-se necessário migrar para o espaço infinito a conquistar. Disso já vêm tratando os que só têm olhos e apetites dirigidos aos excrementos tão bem descritos pelo sacerdote oriental. Ao aplauso entusiástico a qualquer nova conquista tecnológica corresponde a crescente ignorância a propósito do ser humano, cuja tentativa reiterada de abandonar a caverna é respondida até à força das balas. Assim, o que resulta do conhecimento duramente adquirido e da percepção e interpretação adequada dos fatos transforma-se em instrumento de dominação, sepultando no esterco sonhos à altura de superioridade proclamada, ao mesmo tempo em que vigorosamente rejeitada. Observada a expressão de Basílio e levada em consideração a lúcida qualificação do sociólogo e filósofo Zigmunt Bauman – vivemos numa sociedade líquida -, é impossível fugir ao silogismo trágico e oprobrioso: 1. Se o dinheiro é o esterco da sociedade; 2. Se as relações sociais são líquidas, não há alternativa para o corolário: a sociedade contemporânea não é se não uma diarreia, envolvente de todos. Dos que caminham sobre e se alimentam de esterco e dos que, imersos nesse mar de excrementos, não resta mais que esquecer sonhos e Vida.
Sᝨilogismo cruel - e sujo
Atualizado: 4 de set. de 2021
troco dois gatos por um litro de açaí, do grosso.