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Ser como Romano, fora de Roma

Ser como Romano, fora de Roma


Vi-o algumas vezes, na página de algum jornal impresso, como na tela de um televisor ou computador. Nem precisava tê-lo visto fora desses meios virtuais, mesmo pouco o que havia lido sobre ele. Refiro-me a Roberto Romano, o filósofo e cientista social ora integrante do extenso rol de vítimas do Holocausto caboclo cujos promotores e operadores ostentam como triunfo. Desde 22 deste mês ele sucumbiu à força virulenta que têm produzido órfãos, viúvos e viúvas, solitários de toda sorte e idade. Ainda jovem nestes tempos em que há forças inconformadas com a probabilidade de sobrevivência prolongada, o destino de Roberto Romano não foi mais que uma cova onde agasalhar seus produtivos 72 anos de vida produtiva, sobretudo no mais alto grau de humanidade. Porque comprometido com seu tempo e sua gente, o ex-frei dominicano, como muitos de seus confrades de ordem religiosa, pagou com dignidade o preço de sua excelsa humanidade. Preso e torturado, em que pese sua nenhuma participação em qualquer ato criminoso, o professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP foi absolvido em 1973, mesmo quando ainda vigia o regime autoritário. Interessado nos problemas mais importantes de seu tempo, em sua sociedade, o cientista político nascido no Paraná não desmentiu os valores que animaram a sua vida. Todos eles afinados com o ideário democrático e a crença em um ser divino que a ele, pelo menos a ele, não parecia punitivo, nem castrador, muito menos repressor. Talvez nos mais de dois meses passados no Hospital das Clínicas, na var tentativa de curar-se do mal virótico e escapar dos outros males, sociais quase todos, Roberto Romano não terá tido a oportunidade de pôr sua pena a serviço da causa que o fez tão respeitado e contributivo: a libertação dos oprimidos, a saciedade dos famintos, a igualdade dos desigualados. Deixa ele, contudo, obra digna dos olhos de quem deseja aprender. Algumas de suas percepções, transformadas em lições a que só têm acesso os que desejam aprender, podem ser consultadas, Ei-las, informadas aqui como reverência memorial e saudação a quem se destina a eternidade, sem a menor intenção de exaustividade: 1. Brasil, Igreja contra o Estado; 2. Conservadorismo Romântico; 3. Silencio e Ruído – a sátira a Denis Diderot; 4. Razão de Estado e Outros Estados da Razão.

A leitura talvez leve os leitores a constatar quão possível e desejável é sobreviver sem ir à capital da Itália. Mas difícil é viver sem ouvir as melhores lições.

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