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Segurança e sepulturas

Faz poucos dias, dois telefonemas inquietaram-me. Dois amigos e leitores indagavam-me sobre a participação do hospital Adriano Jorge e dos estabelecimentos militares instalados em Manaus, dois hospitais (do Exército e Aeronáutica) e uma policlínica da força naval, no atendimento de pacientes alcançados pela covid-19. Antes de eu redigir algum texto sobre o assunto, o UOL-Notícias dele se ocupou. Informou, então, que há 116 leitos para pacientes infectados, nas dependências militares, dos quais 84 (72,4%) desocupados. (É dia 11 de fevereiro). Enquanto isso, 278 vítimas do mal aguardavam na fila. O governo estadual(ainda é o UOL que o diz)não teria solicitado tais leitos às autoridades militares. Estas justificariam o que para muitos constitui privilégio, tratar-se apenas de um benefício resultante da contribuição dos militares, cujo uso indevido poderia comprometer a segurança. Dito assim, como na informação do UOL- Notícias, fica prejudicado qualquer juízo acerca do assunto. Admita-se fundamento na recusa de participação dos hospitais militares na rede hospitalar que acolhe os pacientes. Impossível imaginar, de pronto, que o alheamento seja mera manifestação de corporativismo tão denunciado e condenado. Ainda mais, quando não se apagou da memória a afirmação de que o soldado (entenda-se: todo militar, seja qual for a arma; seja qual for o posto ou graduação) é o cidadão fardado. Desde logo, uma dúvida me assalta: a contribuição de todos, não só dos militares, terá sido dispensada, parcialmente que seja, na construção e funcionamento dos estabelecimentos militares? Nada lhes posso assegurar sobre isso. Por último, mas sem qualquer propósito de exaurir o tema, pergunto a que segurança se referem as autoridades. Certamente, na mesma situação apresentada pelo UOL está o Hospital Adriano Jorge, cujo vínculo com a Universidade do Estado do Amazonas lhe confere a condição de hospital-escola. Se outros, em algum momento, encontraram uma notinha que seja relacionada à aparente indiferença do Adriano Jorge, dentre eles não me incluo. Aparentemente irrelevante, a questão envolve aspectos nada desprezíveis, sobretudo quando mostra sinais de aprofundamento da polarização a que chegamos. Como condenar e combater privilégios, neutralizar o corporativismo persistente, sem resolver manifestações que parecem menores? À que segurança referem-se as autoridades castrenses, em meio às quase 240 mil sepulturas cavadas pela covid-19?

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