Segundo o figurino

A conduta dos dois membros da bancada governista no Supremo Tribunal Federal pode ter surpreendido apenas os tolos, os desinformados ou os que optaram por incontestável ignorância. A decisão monocrática do sinistro Kássio Marques Nunes, devolvendo mandato de deputado cassado pela prática de crime eleitoral, além de ofender decisão colegiada anterior do Superior Tribunal Eleitoral, apenas ratificou todas as previsões. Embora não seja a primeira vez em que Kássio mostrou a pessoa que é, a afronta ao Poder Judiciário tornou mais transparente seu papel de menino de recado. Algo a que o STF, sejam quais forem seus pecados, ainda não se tinha prestado para palco. Seu companheiro de bancada (os 10% depois acrescentados), ensaiou disposição de exercer seu magistério sem apegar-se à terribilidade de suas crenças, gerando certa expectativa que, uma vez satisfeita, estabeleceria diferenças entre um e outro. O mesmo episódio de que Kássio se fez infeliz protagonista deu a oportunidade para a frustração de alguns seres humanos generosíssimos, ao mesmo tempo em que reforçou os deméritos que levaram André Mendonça ao topo do Poder Judiciário brasileiro. Seu voto na 2ª turma do TSE em nada divergiu da manifestação do correligionário. Nem o significado do voto foi outro. Mais tarde, o pedido de vistas destinado a servir de medida meramente procrastinatória, pôs um ponto final da na dúvida. A aparente resistência em decisão importante, pouco tempo atrás, não passou da aparência. A toga que ele veste é feita do mesmo tecido de que se fez a do seu aliado, não podendo ser outro seu comportamento. Ponham sobre o corpo a roupa que os vestir, já chegou ao conhecimento público a nudez - não de seu corpo, mas de sua alma. Tanto quanto em ambos ficou revelada a falta da qualidade para chegar àquele posto, onde o serviço a um poder constituído sob a forma republicana não pode ser substituído pela fidelidade ao mandão da hora. Figurino posto, figurino assumido.