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Secula seculorum


Secula seculorum

Até que enfim, encontro dois textos esclarecedores, em relação à eleição municipal deste ano. A jornalista Tereza Cruvinel e o professor Aldo Fornazieri são os autores, para cujo conhecimento e percepção usam mais que as calculadoras. Veem eles para além das quatro operações matemáticas, com o que reforçam a insuficiência da pretensa objetividade que alguns tentam ostentar. Sem que os autoproclamados objetivos (da objetividade que Nélson Rodrigues tão bem caracterizou) consigam passar a menor credibilidade aos que os leem. Embora nenhum dos dois articulistas consiga exaurir o assunto, o que escreveram ajuda a compreender o cenário político e levantar hipóteses minimamente plausíveis. Se prováveis ou não, ainda não caberia afirmar. A jornalista responsabiliza o ódio pelo Partido dos Trabalhadores pela perda de espaço imposta ao partido fundado e dominado por Lula. Não chega a dizê-lo com todas as letras, mas vê intenção criminosa na sistemática ofensiva contra o PT, em especial pela Operação Lava Jato. Por elegância talvez, não chegou a incriminar Moro e seus cumplices, o que pode ser encontrado nas entrelinhas. Se tivesse sido deselegante, nem por isso estaria longe da verdade. Aponto em seu texto também um gesto de elegância, ao ignorar se não as razões, pelo menos os pretextos encontrados pelos justiceiros para incriminar Lula e seus fiéis seguidores. Há omissão, ainda, quanto à impossibilidade de resistência do próprio PT, cujo dono sempre se negou à autocrítica e à geração de novas lideranças. Só isso, não o reiterado protesto de inocência livraria o PT da perda de espaço. Já Fornazieri chega a propor regras de conduta aos partidos que não se alinham a Bolsonaro, se desejam enfrenta-lo em 2022 com alguma probabilidade de vencê-lo. Se para Cruvinel uma direita muito próxima do Presidente e os métodos insidiosos que utilizou e a outra, travestida de centro, impuseram a derrota que o Partido dos Trabalhadores amarga, para Fornazieri os partidos não-alinhados a Bolsonaro devem buscar alianças capazes de impedir sua reeleição. A distância em que muitas das siglas consideradas direita fisiológica (PSD e PP) e de centro-direita (PSDB, DEM e MDB) foram relegadas pelos que o articulista considera esquerda ou centro-esquerda (PT, PC do B, PSol, PSB e PDT) não pareceu prudente. Esse é erro que o professor da FGV recomenda não seja repetido. Há, é certo, pouco rigor na classificação dos partidos no espectro político. Vale, porém, o que ficou patente no pensamento de ambos. Tanto Tereza Cruvinel quanto Aldo Fornazieri não dão como favas contadas a permanência de Bolsonaro na disputa de 2022. A economia – sempre ela – é quem soprará os ventos, como sempre foi, per secula seculorum.

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