Empenhada em prantear seus mortos, assistir de longe parentes hospitalizados, acompanhar a escala de vacinação ou inventar modos de sobreviver à pandemia, a sociedade experimenta sensações algo diferentes. Se não em substância, em grau e extensão. Não se poderia pensar que a covid-19 produz efeitos iguais, pirâmide socioeconômica abaixo. Se a extensão dos efeitos não deixa ninguém fora de seu crescente território, o estrago que vitima uns é incomparável ao rigor com que afeta outros, os mais próximos da base da pirâmide. O fato é que se vai consumando o anúncio do sinistro do meio ambiente. O rebanho passa pela porteira, sôfrego e voraz como sempre foi, embora em alguns momentos disfarçado. A ocupação dos mais de 14 milhões de desempregados, entretidos nas tarefas exigidas pela pandemia, impedem-nos de atentar para os sucessivos atentados contra todos praticados. Arrebentaram-se as porteiras, derrubaram-se cercas, forçaram-se portas. E, porque o apetite não tem limites, pulam-se muros. Tudo, sob o mantra assaz conhecido, nem por isso desgastado ou tornado sem valia: as instituições estão funcionando. Funcionamento que poderíamos assemelhar ao do calhambeque convocando ao empurrão dos passantes, sem o qual não sairá do lugar. A recente eleição para a Mesa Diretora das duas casas do Congresso encobre mais do que revela, quanto às práticas políticas de uma nação teimosa em proclamar-se republicana. Qual liquidificador no qual se despejam ingredientes da mais variada origem, de desigual consistência e diferente textura, vai-se construindo monumento consagrador da desigualdade em prol da qual milita a elite, dita brasileira apenas em obediência ao jus soli. Não se tem assistido qualquer gesto, uma só palavra indicativa da existência de um projeto, mesmo se toscamente elaborado. Determinantes são os interesses mesquinhos, egoístas, desumanos alguns, sobrepostos às necessidades coletivas, aos interesses comuns à maioria. Faça-se ligeira análise do que vem sendo anunciado pelas autoridades, do governo representado pelos três poderes, logo se contratará quão duros serão os próximos anos. Óbvio que nem todos pagarão por isso. De antemão já se sabe quais os escolhidos para carregar o pesado fardo tecido pelo egoísmo, a voracidade, a perversidade, o animal que se esconde dentro de nossas lideranças, estejam onde estiverem. Nada mais desolador, a preparar a liquidez de vida e sociedade que algum dia imaginamos sólida. Os liquidados nem se dão conta.
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