top of page

REVOLUÇÃO E A ELEIÇÃO DE 2022 NO BRASIL

Há agrupamentos políticos de esquerda, como os trotskystas, que não estão apoiando nenhum dos candidatos a presidência da república, tendente à abstenção ou à anulação dos votos ou a votarem em branco.

É sabido que qualquer destas opções favorece o candidato do fascismo. Esses movimentos políticos são antifascistas. Ser de esquerda implica, essencialmente, em ser antifascista.

Ser antifascista é ser humanista, ético, comprometido com o bem, com uma sociedade livre e justa, na qual não exista o ódio e a exploração do homem pelo homem. Favorecer, pela ação ou pela omissão, o fascismo é a negação destes valores, que são fundamentais para todos aqueles que assumiram uma postura política de compromisso com o bem do povo e de oposição ao que há de mais deletério no comportamento de seres humanos.

O Lula não é igual ao outro candidato. O ex operário e seu partido não são da extrema esquerda, mas têm compromissos com as liberdades democráticas, com a classe operária e com o povo, para propiciar-lhes dias melhores e, menos exploração de sua força do trabalho.

É um grave erro ético e ontológico considerar que todas os seres que não são ideologicamente iguais a nós são iguais entre si. Essa dicotomização nós e os outros, sendo estes, no caso, todos os que não são iguais ideologicamente a nós, além de ser um grave equívoco estratégico (do ponto de vista revolucionário), é um grave equívoco de racionalidade objetiva. Existe, sim, uma gama de posições políticas, tanto na direita, quanto na esquerda. Existem as posições extremadas da direita (fascismo, nazismo, integralismo etc.) e diferentes posições de esquerda (várias posturas comunistas, socialistas democráticos, trabalhistas progressistas, anarquistas, sindicalistas progressistas, sociais-democratas progressistas etc.). Portanto, politicamente, há as posições de esquerda, de centro-esquerda, de centro, de centro-direita e de direita. Os que se situam à esquerda são, fundamentalmente, anti-fascistas. É um erro de percepção política, ética e ontológica considerar que apenas o nosso grupo político tem o domínio da verdade absoluta e todos os demais são alienados, padecem da alienação de classe. O grupo a que pertencemos pode até ser o melhor, mas não esqueçamos de que todos nós somos seres humanos e, como tal, somos suscetíveis de também cometermos erros. O ser puro absoluto não existe. Apenas para os religiosos existem os santos.

Existem as utopias e os sistemas de base científico-filosófica que aspiram para a humanidade a vida em sociedades sem a divisão de classes sociais, sociedades nas quais não ocorra a exploração de classe social sobre outra / ou outras / classe(s) social(ais). Sociedades socialmente e economicamente justas nas quais não exista a exploração do homem pelo homem. Agrupamentos políticos que assumem essa postura socialmente ética, justa, moral, têm a convicção de que esse tipo de sociedade livre apenas pode efetivar-se mediante a revolta dos explorados, espezinhados, humilhados, dominados, ofendidos, que, mediante uma revolução, vencerá os exploradores e conquistará o poder, implantando uma sociedade em que todos desfrutem a liberdade e os mesmos direitos, uma sociedade eticamente justa. Porém, a revolução não ocorre de um dia para o outro, de supetão. Ela decorre de um processo revolucionário, que se desenvolve ao longo do tempo. Para haver a revolução libertadora não é necessário que todos os oprimidos sejam comunistas (em qualquer de suas expressões grupais). O móvel ou a mola propulsora ou a energia, a força que promove e revolução é a revolta, a indignação dos explorados, dos oprimidos, dos humilhados. A explosão desta revolta unifica, une os explorados e os leva a concretização da revolução, e desta participam os que são conscientizados politicamente e os que não o são, mas que são espezinhados.

Assim foi em todas as revoluções que já ocorreram na história da humanidade. Depois de séculos de exploração, os “bárbaros” escravos derrotaram o Império Romano buscando a sua libertação. Mas, logo veio a Idade Média, mil anos de dominação dos nobres e senhores feudais, aliados à Igreja Católica, sobre os vassalos, sobre os servos, sobre os artesãos. Veio o fim da I. M. com o Renascimento das artes e da filosofia e, logo, a Reforma Protestante, e, concomitantemente, o início do capitalismo moderno através das grandes navegações, das conquistas territoriais, do colonialismo e da escravidão dos negros africanos, fatos sociais e econômicos associados à instauração das monarquias, dos governos despóticos dos reis e imperadores (tudo isto no Mundo Ocidental). Foi então, que teve lugar uma das revoluções mais importantes da história da humanidade, a Revolução Francesa iluminada pelos ideais e pensamentos dos filósofos da Antiguidade e dos que vieram a partir do Renascimento. A Revolução Francesa foi a revolução burguesa, ou seja, a revolta da bourgeoasie contra os déspotas, contra a monarquia. Ela não foi a revolução da classe operária. O operariado foi constituído a partir da revolução industrial, que ocorreu no final do século XVIII e os seguintes. Foi como um corolário das mudanças sociais decorrentes desta revolução, da exploração crescente da classe operária recém-formada e em crescimento, que, repercutindo o pensamento de filósofos gregos e do Renascentismo, e mesmo, valores sociais puros do cristianismo, que surgiram os filósofos e teóricos socialistas, comunistas, dentre os quais ressalta a figura de Marx. Este alemão, por um lado, de formação luterana e, por outro, de ascendência judaica, foi o principal sistematizador teórico (atividade científica e filosófica que ele desenvolveu aliada ao ativismo revolucionário) da revolução comunista. Então ocorreram e fracassaram as revoluções da 1848 e a Comuna de Paris (ambas fundamentadas no pensamento de Marx e com sua participação ativa, efetiva, agitadora). Vieram, em seguida, a Revolução Anarquista de 1905, na Rússia (o jovem Trotsky participou desse movimento) e, pouco depois, a dita Revolução das Mulheres (em geral e, em particular, as operárias), de fevereiro de 1917, na Rússia, de caráter social democrático, mas que derrubou o Poder dos Czares (ou derrubou do Poder os czares), seguida pela revolução de outubro de 1917, sendo esta a histórica Revolução Russa, com a vitória dos “bolcheviques” e a assunção do poder pelo Partido Comunista da Rússia e, em seguida, a instauração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS. Os líderes principais desta revolução foram Lenin (que logo assumiu o Poder principal), Trotsky e Stalin. Logo, com a morte de Lenin, Stalin assumiu o Poder e cometeu gravíssimos erros, que levaram ao enfraquecimento revolucionário, que, a médio prazo, resultou no fim da URSS. Um dos graves erros de Stalin foram os chamados “processos de Moscou” no PCR, dos quais resultou a instauração da “punição” assassina de milhares de comunistas, principalmente nos campos de trabalho forçado da Sibéria, e, a perseguição e o assassinato de Trotsky. Mas, havia chegado ao fim mais um processo revolucionário, o mais importante da História, até o presente momento.

A Revolução Mexicana não foi um movimento comunista e, com o passar do tempo, deu no que deu (o PRI etc.).

Os jovens que fizeram a Revolução Cubana (Fidel, Raul, Guevara, Cienfuegos etc.) não eram comunistas. Já estavam no Poder quando receberam a solidariedade da URSS e se tornaram comunistas. As revoluções anti colonialistas de alguns povos africanos (angolanos, moçambicanos etc.) estão em crise, depois da derrocada da URSS.

A Revolução Chinesa, comunista, depois da fase sectária e radical do Mao, tornou a China um país com capitalismo de estrado, ditatorial e com um partido único. Lá há, ao lado do povo pobre, grandes capitalistas.

Quanto à Rússia atual, o ex espião da KGB, hoje presidente perpétuo do país, instaurou um sistema capitalista corrupto e pretende tornar-se, não propriamente um Stalin, mas um novo “czar”, restaurando a Grande Rússia da época kzarista. Lamentavelmente, procura colocar em prática este projeto pela força das armas, como já tentou fazer com a Geórgia e está fazendo com a Ucrânia. Conta com o apoio do ditador da Bielorússia. É um criminoso.

Na América do Sul, tem ocorrido de assumirem o Poder, democraticamente, mediante eleições, políticos de esquerda, porém, sem revoluções.

Assim, para concluir, digo, que a revolução não vai se efetivar amanhã! O dia em que se concretizar mais uma revolução contemporânea será decorrente de um longo processo de amadurecimento ideológico, organizativo e de condições conjunturais.

Em meio a estas condições propiciatórias, estão a vivência democrática de eleições e, nestas, a eleição de políticos anti fascistas. Lula tem um compromisso com a liberdade democrática (necessária ao desenvolvimento do processo revolucionário, sem repressão policial, sem censura etc.). Lula não é igual a Bolsonaro!

Reitero: é um erro política e revolucionariamente estratégico a ideia do “nós, os bons, e os outros, sendo estes todos iguais entre si e maus”!!!

Nesta etapa, o passo a ser dado é derrotar o fascismo!!!

(S. Paulo, 13/10/2/22)


Orlando Sampaio Silva





1 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Bento Aranha: sarapatel, indígenas e enchente

José de Ribamar Bessa Freire Taquiprati, 12-05-2024 “No Amazonas, tudo é grande e só pequeno é o homem”  (Bento Aranha, 1906) Essa fofoca é deliciosa, embora trágica. O coronel José Carvalho, nomeado

bottom of page