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REGISTROS HISTÓRICOS.FORMAÇÃO e VIDA DO POVO HEBREU/JUDEU E SEQUÊNCIA GENEALÓGICA DA ORIGEM A J.C.


SODOMA E GOMORRA / LÓ E S U A F A M Í L I A

Refiro-me, agora, aos episódios bíblicos que dizem respeito ao sobrinho de Abraão chamado Ló ou Lot. Ló era filho de Haran ou Harã, que era irmão de Abraão. Houve conflitos guerreiros entre Sodoma e a cidade de Abraão, em consequência dos quais registrou-se a interveniência pacificadora de dois anjos enviados por Deus. Feita a paz, Ló foi viver com sua família em Sodoma, para onde se mudou por sua decisão pessoal, por sua opção, afastando-se do lugar em que vivia o patriarca seu tio. Próximo a esta cidade havia a cidade de Gomorra e outras três pequenas cidades. Estas cidades se situavam em terras atravessadas pelo Rio Jordão, em Canaã (hoje Israel).

O que ocorreu de extraordinário nessas cidades foi que seus habitantes, com o passar do tempo, haviam-se tornado praticantes de comportamentos, por um lado, marcados pela violência física, principalmente, p. ex., contra estrangeiros, e, por outro lado, por grande descontrole nas práticas sexuais. Foi implantada uma situação anômica caracterizada pela banalização das relações desregradas entre as pessoas, pela falta ou ineficácia de normas legais ou, de valores disciplinadores, instalando-se um caos comportamental. No que tange, especificamente, aos costumes sexuais, tornaram-se quotidianos estados de grande excitação, de ocorrências privadas e em público, que levavam homens e mulheres, jovens e pessoas mais velhas, pessoas de sexos diferentes e pessoas do mesmo sexo, a todos os tipos ou possibilidades de práticas sexuais. Era uma exacerbação das experiências e vivências do prazer sexual desmedido e incontido, com o agravante de que estes atos envolviam indiscriminadamente maridos, esposas, filhos, filhas, irmãos, irmãs e demais pessoas de dentro e de fora das famílias, e da sociedade em geral. Efetivavam-se exaltações orgiásticas, com total ausência de proibições ou de limites, e com a inexistência total de tabus de incestos. O privilegiamento das práticas de sexo anal, neste contexto histórico do povo destas cidades, levou os estudiosos dos comportamentos sexuais do futuro a denominarem este tipo de relacionamento sexual de “sodomia”, e seus praticantes de “sodomitas”, tendo em vista o nome de uma das duas cidades, Sodoma.

Ló e Abraão, seu tio, tomaram conhecimento de que Deus, tendo em vista a desordem e a dissolução dos costumes que estavam prevalecendo em meio ao povo dessas duas cidades, iria destrui-las, inclusive a em que Ló morava com sua mulher e suas duas jovens filhas. Ante a ameaça iminente, Ló pediu a proteção e a ajuda de Abraão e de seu Deus. Então, em seguida, aqueles enviados de Deus acima referidos, dirigiram-se a Sodoma e Gomorra, em formas humanas, onde se apresentaram a Ló, à porta de sua casa. Ló os recebeu, mandou-os entrar e fechou a porta. Logo, moradores da cidade tentaram arrombar a porta da casa de Ló, que perguntou a eles o que pretendiam e obteve como resposta que queriam aproveitar-se daqueles dois homens estrangeiros. Ló ofereceu-lhes, no lugar dos anjos, suas duas jovens filhas. Ele, sabendo da intenção daquelas pessoas, estava seguro de que o que eles fariam com elas pelo menos preservaria as suas virgindades! Os circunstantes não aceitaram as jovens, queriam os estrangeiros. Os anjos cegaram os ameaçadores exaltados e disseram a Ló que fugisse com sua família, mas que, na fuga, não se voltassem para ver a cidade incendiando, sob pena de se transformarem em estátuas de sal. (Nessa área do Mar Morto, onde se teria registrado essa ocorrência, encontram-se as maiores reservas de sal do Mundo).

Ló com sua mulher e suas jovens filhas, sem que os ameaçadores os pudessem ver, fugiram da cidade, na certeza de estarem protegidos pelo seu Deus. Segundo a tradição bíblica, Deus puniu os moradores de Sodoma e de Gomorra por seus erros, destruindo as duas cidades com fogo e enxofre. Porém, a mulher de Ló, Ado, Ayla ou Edith (nomes alternativos referidos em meio à tradição rabínica judaica e, por outros estudiosos do texto sagrado), na fuga, não conseguiu conter-se e, na ansiedade da tentação, olhou para trás e contemplou Sodoma incendiada. De imediato ela foi transformada em uma estátua de sal. Fora punida pela desobediência. O Deus bíblico é onisciente e onipotente; assim, como no caso da desobediência de Eva, no Éden (a Queda), Deus, ao fazer a proibição, sabia qual seria o comportamento da mulher de Ló.

A destruição das duas cidades teria acontecido há cerca de 3.700 anos.

Ló, sua mulher e suas duas filhas virgens - sendo Paltith a mais velha das irmãs, e Tamires a mais nova -, depois de breve estada na pequena cidade de Zoar, passaram a viver em uma caverna nas montanhas. Estando o pai já em idade avançada, as filhas, desiludidas e desesperançadas de que seriam procuradas ali por possíveis maridos, embebedaram o pai, e, então, mantiveram relações sexuais com ele. Em consequência, cada uma gerou um filho (incestuoso). Estes filhos foram: Bem-Ami (filho da filha mais nova, Tamires) e Moabe (filho da filha mais velha, Paltith). Bem-Ami veio a dar origem à etnia Amonita, e Moabe foi o instituidor dos Moabitas, tendo cada um se tornado dirigente do povo a que deu origem, conforme narrado no Velho Testamento. Os nomes próprios referidos decorrem da tradição e das contribuições dos intérpretes da Bíblia.

Os relacionamentos íntimos entre as filhas de Ló e seu pai são coerentes e têm lógica nos comportamentos de pessoas que estavam vindo de Sodoma, onde viviam. É possível mesmo que o detalhe do embebedamento de Ló pelas filhas seja um mero recurso ou retoque “moralístico” utilizado pelo escriba bíblico, em uma tentativa de amenização das características intrafamiliares dos atos sexuais, como se o pai não tivesse consciência da situação a que foi levado. Mas, de qualquer maneira, as filhas, personagens deste episódio erótico, tinham plena consciência do que estavam fazendo. Por outro lado, fica na obscuridade qual foi a bebida instrumentalizada pelas filhas para embriagarem o pai. Nas circunstâncias, o provável é que elas tenham preparado um vinho com partes de vegetais existentes no local. Nessa região vicejava a sarsa-acácia-jurema (branca), vegetal que propiciava (e ainda hoje) a diversos povos o preparo de uma bebida que altera o estado de consciência da pessoa que o ingere e pode ter efeitos afrodisíacos. O uso desta planta, em todo caso, é uma hipótese na busca da empiria com elementos bíblicos.

Iung perdeu a oportunidade de adotar esta simbologia das filhas de Ló se fazerem possuídas pelo próprio pai, ao invés das relações trágicas da trama desenhada por Sófocles (“Édipo Rei”) inspirado na mitologia grega (o “complexo de Electra” iunguiano). Ora, a mãe, que se antepunha entre elas e o pai, fora eliminada ao ser transformada em estátua de sal por Deus, não havendo mais a “rival” que dificultaria a aproximação íntima delas com seu objeto paterno de admiração/atração/desejo. Iung teria evitado o entrevero com seu mestre, o judeu Freud (“complexo de Édipo” freudiano), polêmica que decorreu da utilização pelo ex discípulo da simbologia trágica do dramaturgo grego, no mergulho abismal psicanalítico.

[CONTINUA. Próximo capítulo: “Isaac”]

Gmail: osavlis@gmail.com

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