Pés de barro
- Professor Seráfico

- 28 de jul. de 2022
- 2 min de leitura
Quando se acumulam mais de 6.000 obras sobre a vida e o desempenho do ex-primeiro Ministro britânico Winston Churchill, eis que um professor de Oxford ajuda a entender melhor a figura elevada à condição de mito. Refiro-me ao livro Winston Churchill - His times, his crimes. Comentários do jornalista Mário Mário Sérgio Conti (Winston Churchill - macho-alfa racista e imperialista (FSP, 22 de julho de 2022) servem de aperitivo para o que pode ser excelente e esclarecedora leitura para quantos rejeitam mitos e preferem conhecer mais e assim chegar mais próximo da verdade. A célebre frase a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais e a expressão sangue, suor e lágrimas, com que estimulou a resistência ao nazismo funcionaram como borracha que apaga tudo o mais. Por isso, é bom não apenas sorver as gotas de conhecimento contido em copo limpo, mas servir--se de todo o cardápio que o livro pode pôr diante de nossos olhos. Neste caso, Ali Tariq, o autor de cujo livro Conti trata, força-nos a admitir que o melhor líder, seja ele quem for, raramente corresponde à imagem que dele traçam seus comparsas, contemporâneos ou não. Nesse sentido, qualquer borracha que tente apagar os fatos sempre chegará ao momento da total desmoralização. Não basta, dizemos nós, os brasileiros destes tempos tão infaustos, impedir a divulgação do que foi e se pretende esconder. Todos os gatos têm rabos, todos os rabos um dia são postos à luz. Alistem-se, pois, no cardápio confeccionado pelo cozinheiro Al Tariq e vendo Mário Sérgio Conti como prestativo e atencioso garçom, algumas que (para não perder a cena) compõem a suculenta e esclarecedora refeição: Churchill manifestou-se contra o voto das mulheres, porque seus pais e maridos as representavam muito bem. Não agradavam ao ex-Primeiro-Ministro britânico pessoas que usavam trança e tinham os olhos rasgados. (Como estaria a velha Albion, neste momento em que a China vai assumindo posição relevante, talvez a primeira, na sociedade mundial?). A admiração dedicada a Mussolini e a justiça e legitimidade do que ele mesmo sabia e dizia conter a eliminação de povos originais, os peles-vermelhas na América e os negros da Austrália). Não faltaram sequer, no pensamento de Churchill, a condenação à fertilidade dos indianos e o aplauso ao uso de gases venenosos contra tribos incivilizadas. Isso não bastava àquele homem, durante muito tempo transformado em mito, como tantos outros, antes e depois dele. A conclusão de Tariq, que Conti parece endossar, é o último golpe da picareta que mostra o barro dos pés em que se assentava o estadista de Downing Street, 10: Nos livraríamos de um homem mau e de um inimigo do Império, se Gandhi morresse. Precisa dizer mais?


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