Orlando Sampaio Silva
A propósito da arqueóloga norte-americana Anna Roosevelt, à qual me estive referindo recentemente, um pequeno registro de ordem familiar. Os presidentes da república dos Estados Unidos Theodore Roosevelt e Franklin Delano Roosevelt eram primos entre si em quarto (4º) grau. A Anna Curtenius Roosevelt, nascida em 1946, era parenta (prima) distante do Franklin Delano Roosevelt, o presidente do New Deal, democrata. A Anna Roosevelt, formada nas Universidades de Stanford e Columbia, foi professora de Antropologia e pesquisadora na área da Arqueologia da Universidade de Illlinois, USA. Ela se dedicou ao estudo do homem dito pré-colombiano na América do Sul, especialmente no Brasil, Amazônia. Inicialmente, ela se ateve à Arqueologia Clássica, passando, depois, ao estudo da Arqueologia da A. do Sul. Ela defendia a tese de que, na Amazônia, existiram, no passado, significativas sociedades indígenas, que se organizavam em grandes conglomerados humanos culturalmente avançados, algo que se aproximava do que se registrou no México, no norte da América Central e nos Andes (Maias, Astecas, Incas etc.). Na Ilha do Marajó, no Pará, registraram-se (cf. achados arqueológicos) as seguintes fases sócio-culturais: Ananatuba, Mangueira, Formiga, Acauã, Alta Marajoara,(se organizava em cacicado) e Aruã (cacicado). Essas fases têm um significado evolutivo do mais simples para mais complexas sociedades, que, inclusive, se envolveram em processos sociais nos quais grupos com estruturas socio-culturais mais avançadas dominaram (escravizaram) outros grupos menos desenvolvidos. Daí a existência dos mounds ou “tesos”, elevações de terra artificialmente construídas, que ficam acima das inundações dos campos marajoaras. Esses povos pré-colombianos utilizavam-nos com fins utilitários (protegendo-se das inundações) e com fins cerimoniais, e como cemitérios. Neles são encontradas fantásticas (pelo tamanho, pela forma e por sua decoração com os conhecidos e famosos desenhos da cerâmica marajoara) urnas funerárias. Os tesos, por seus grandes volumes, indicam terem sido construídos por numerosa força de trabalho provavelmente de outros grupos submetidos. A sucessão dessas fases da cultura marajoara indicia a possibilidade de grupos complexos terem sido substituídos sucessivamente por outros grupos mais complexos, através dos séculos. As datações indicam essas ocorrências sociológicas no período de 400 a 1400 d.C. Os colonizadores se incumbiram de eliminar os sobreviventes desse processo na vida humana pré-colombiana, no Pará (Marajó), processo que se efetivava espontaneamente antes dos tempos coloniais.
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