Incansável, repetirei que a Política é o espaço social em que o homem pode realizar a consumação do que se chama vontade. Tomemos a expressão como impulso, desejo, aspiração, sonho ou utopia, ela se presta sobretudo para identificar a diferença fundamental entre o homem e os outros animais. Também somos dotados dos instintos que estão presentes nos que chamamos seres inferiores. Eles não dispõem, como os que nos dizemos humanos, de outras capacidades, que não as voltadas para a simples e mera sobrevivência e para a própria reprodução da espécie. Sendo o homem animal essencialmente social e o único dotado de vontade, ele tem tudo a ver com a construção do próprio ambiente em que vive. Malogradamente, tanto o ambiente social tecido pelas relações interpessoais, quanto fisicamente. A crise por que passa o Planeta e que coloca em risco o ambiente em seus múltiplos aspectos - social e físico, portanto - não é mais que o produto de nossa própria conduta. É certo que numerosos estudiosos sabem disso e pouco se lhes dá se a intervenção do homem levará à destruição atômica ou à gradativa e sempre mais acelerada destruição da Terra. O que eles têm de conservadores em relação aos costumes, eles têm de progressistas, se o progresso pode ser medido pelo grau em que o equilíbrio da casa comum (como diziam os saudosos amazonólogos Armando Mendes e Samuel Benchimol) é posto em xeque. Em meio a - e apesar de -tudo isso, a sociedade humana vai experimentando sucessivas crises, nem sempre percebidas pelos habitantes do Planeta. Outras vezes, porque percebidas e vislumbrada a oportunidade de fazerem-se materialmente mais ricos, há os que procuram tirar proveito do fenômeno. A esses predadores ainda se chama de humanos, em evidente e inaceitável contradição. O estágio a que chega o Mundo, nestas primeiras duas décadas do terceiro milênio, é pouco promissor. Estamos diante de fatos que colocam em dúvida as mais profundas convicções e as maiores esperanças que a inteligência humana terá gerado ao longo das centenas de milhares de anos, desde que as duas patas dianteiras mantêm o animal superior em pé. Inventou-se, por exemplo, uma forma e um sistema de governo que, herdado dos gregos antigos, passou por diversas fases. Uma delas, que coube a Montesquieu descrever, a república e, com ela, a atualização do que os contemporâneos de Platão chamaram democracia. Nesta, a representatividade expressiva da vontade coletiva se tem feito através da concessão de mandatos. Portadores de votos, aos mandatários brasileiros cabe escolher como se conduzirão no exercício que lhes foi atribuído pelos eleitores. Como se tem observado, à representação legítima e legal, foi preferida a simples e condenável chantagem. Que o digam Arthur Lira e a grei que o adula, aplaude e confirma as mais vis formas de relacionamento com os demais poderes. Será o réquiem de Montesquieu?
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Política e chantagem (Seráfico e Porto)
Na efemeridade do palco político,
Onde a vontade humana é encenada,
A política se torna espaço crítico,
Onde a consumação é ameaçada.
Impulsos, desejos, sonhos a guiar,
A distinção entre nós e animais,
Dotados de vontade a criar,
O homem molda seus próprios rituais.
O ambiente, tecido por relações e ação,
Social e físico, em crise se envolve,
A conduta humana, causa e reação,
Risco à Terra, problema que resolve.
A crise do Planeta, em nossas mãos,
Conhecida por estudiosos atentos,
Conservadores e progressistas em ações,
O equilíbrio da casa comum em tormentos.
Neste terceiro milênio, desafios à vista,
Fatos que abalam convicções profundas,
A sociedade, às crises resiste,
Predadores humanos em condutas imundas.