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POEMA DE GIORDANO BRUNO AOS SEUS VERDUGOS*

17/02/1600 – A Inquisição queima vivo Giordano Bruno por sua liberdade de pensamento e expressão.


Dizei-me, qual é o meu crime? Suspeitai, sequer? E me acusais, sabendo que nunca delinqui! Queima-me, porque amanhã, onde acendeis o fogo, A História levantará uma estátua para mim. Eu sei que me condena vossa suma demência, Por quê? ... Porque busquei da verdade as luzes, Não em vossa falsa ciência que o pensamento obscurece Com dogmas e mitos roubados de outra era, Mas no livro eterno do mundo do universo que encerra entre suas páginas de imensa duração; as sementes abençoadas de um futuro frutífero, baseado na justiça, fundado na razão. Bem sabeis que o homem, se ele procura em sua consciência, a causa das causas, o último por que há de trocar muito em breve, a Bíblia pela ciência, os templos por escolas, a razão pela fé. Eu sei que isso vos assusta como vos assusta tudo tudo grande, e gostarias de poder me desmentir. Além disso, vossa consciência, submersa na lama de um servilismo que faz gemer a lástima ... Mesmo ali, no fundo, bem sabeis que a idéia, é intangível, eterna, divina, imaterial ... Que não é ela o Deus e a religião vossas Senão o que forma com suas mutações, a história do mundo. Que é ela que extraia vida do ossuário que torna o homem de pó em criador, a que escreveu com sangue a cena do Calvário, depois de escrever com luz, a do Tabor. Mas sois sempre os mesmos, os velhos fariseus, Aqueles que rezam e se prostram aonde podem ser vistos, fingindo fé, sois falsos ao chamar por Deus, ateus Chacais que a um cadáver buscais para roer! ... Qual é a vossa doutrina? Trama de mentiras, vossa ortodoxia, embuste; vosso patriarca, um rei; lenda é a vossa história, fantástica e estranha. Vossa razão, a força; e o ouro, vossa lei. Tendes todos os vícios dos antigos gentios Tendes a bacanalia, sua pérfida maldade; como eles sois farsantes, hipócritas e vis. Quereis, como eles queriam, matar a verdade; Mas... Vão é o vosso empenho... Se nisto há algum; sou eu a quem a História, no futuro dirá; "Eu respeito aqueles que morrem como morreu Bruno" E quanto aos vossos nomes... Quem os lembrará?

Ah... prefiro mil vezes minha morte à vossa sorte; Morrer como eu morro... Não é uma morte. Não! Morrer assim é a vida; e vosso viver, a morte Então, quem triunfará não será Roma, serei eu! Informem vosso Papa, vosso senhor e mestre, Diga a que a morte me entregou como um sonho, porque é a morte um sonho que nos conduz a Deus... Mas não a este sinistro Deus, com vícios e paixões que ao homem dá a vida e, ao mesmo tempo, sua maldição, Senão ao Deus-ideia, que em mil evoluções dá forma à matéria, e vida à criação. Não o Deus das batalhas, mas o Deus do pensamento, o Deus da consciência, o Deus que vive em mim, O Deus que anima o fogo, a luz, a terra, o vento, O Deus das bondades, não o Deus de ira sem fim. Diga a ele que dez anos, com febre, com delírio, Com fome, não puderam minha vontade quebrar, Que negue Pedro ao Mestre Jesus, que a mim ante o martírio da verdade, sabeis que não me fareis apostatar. Agora basta! ... Eu vos aguardo! Dê fim à sua obra, Covardes! O que vos detém? ... Temeis o futuro? Ah ... Tremeis... É porque vos falta a fé que a mim me sobra... Olhai para mim... Eu não tremo... E sou eu quem vai morrer! ...

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* Giordano Bruno (1543-1600), filósofo, escultor, matemático, teólogo, poeta, frade dominicano, condenado à morte na fogueira pela Inquisição, em 17 de fevereiro de 1600.

O texto foi publicado pelo Instituto Humanitas, da Universidade do Rio dos Sinos-UNISINOS, RS. Lembrou-a Fernando Altemeyer Junior, filósofo, cientista da religião, teólogo, escritor e professor da USP. (https://www.ihu.unisinos.br/616313-breves-do-facebook-18-02-2022)

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