Pode haver pior?

Maior que seja, impossível manter o otimismo. Às más consequências determinadas pela ação da natureza e seu vírus, contribui para neutralizar sentimento tão afeito à criatividade, à alegria e à vida mesma, certa forma de ver o mundo. Ao desequilíbrio de que a Terra parece portadora, em seu giro permanente em torno do sol, soma-se visão do Mundo permeada de maus sentimentos, perversões, taras e outros vícios inatribuíveis à natureza. Assim, homens e pragas se juntam e tratam de realizar o que Malthus apenas anunciara. Não faltam alimentos para pôr na boca de todos os terráqueos. Não faltam meios materiais para saciar todas as necessidades humanas, salvo reduzido contingente dos que antes foram punidos pela natureza. Vieram ao mundo com o que alguns chamam defeito de fábrica. A expressão representando, por si mesma, o conceito em que têm o amor, a geração, a concepção , enfim - a sociedade humana. No entanto, contam-se em milhões os famintos; multiplicam-se os enfermos; generaliza-se a desesperança. Dissemina-se o apodrecimento mais que o empoderamento com que se tenta enganar os trouxas. É preciso, para muito além do otimismo, manter a ingenuidade da primeira infância, para pintar com outras cores o quadro de que, queiramos ou não, todos participamos. Menor, ainda, o número dos que se sabem protagonistas da História, esfuziante de júbilo ou carregada da tragédia de que podemos dar testemunho. Quando até o oxigênio é negado a pacientes; quando há os que estimulam a infecção em massa da população; quando se institui o mercado paralelo para vender gás e vacinas, digam-me os leitores, pouquíssimos que sejam - o que esperar de pior?