Pela culatra

O açodamento das lideranças militares pode levar a resultados imprevistos, pelo menos para os propósitos dos que não temem pôr em risco a claudicante democracia que experimentamos. As palavras do Presidente da CPI do Senado parecem ter sido mal interpretadas pelo Ministro da Defesa e os comandantes das forças de ar, terra e mar. Em nenhum momento o senador Omar Aziz mostrou o desejo de ofender a instituição, mas apenas destacar o mal que pequena parcela de seus integrantes faz à respeitabilidade e ao prestígio desfrutados. O representante do Amazonas teve, inclusive, o cuidado de dirigir-se ao que chamou "banda podre", expressão que por si só exclui conceito ofensivo tanto ao Exército, quanto à Marinha e à Aeronáutica. A reação dos chefes militares passou à sociedade a impressão de que a caserna aprova a conduta dos colegas que, expondo as respectivas corporações, envolveram-se em atos de que a CPI, com legitimidade conferida pela Constituição, e segundo rito próprio, trata de apurar. Agrava a situação, ainda, o fato de ter-se criado um conflito interinstitucional sem razão plausível, de que podem resultar danos à já precária democracia em vigor. Alguns pensam que a nota dos comandantes militares leva gasolina à fogueira, por fortalecer certos pronunciamentos saídos da boca de militares, inclusive do Presidente do STM, órgão onde as ofensas às leis e regulamentos militares buscam solução. O resultado é que o medo pode espalhar-se na sociedade, causando danos muito maiores que a apuração das responsabilidades dos autores das ações investigadas pela CPI da covid-19 e a punição deles, tudo na forma da Constituição e das leis. O tiro, assim, pode ter saído pela culatra, a não ser que as questões políticas devam ser resolvidas a bala. Nesse caso, pode-se levantar a hipótese de que os cidadãos estão à mercê dos que detêm armas e, mesmo sendo estas compradas com o dinheiro do contribuinte, servirão para maltrata-los.