Ora, se religião e preferência por time de futebol pairam acima de qualquer discussão, torna-se incompreensível ou inadmissível estender essa vedação à Política. A não ser que está também se fundamente em crenças ou nada tenha a ver com a vontade diferente das pessoas, comparadas umas às outras. A meu juízo, ocupa o centro do ambiente político a vontade humana. É lá que aspirações, sonhos e desejos individuais são debatidos, até alcançar consenso que dispense a resolução dos conflitos pelas armas. Daí muitos dizerem ser a Política um preventivo (podemos até chama-la vacina) contra a guerra. Duas, pelo menos, são as condições observar. A primeira delas diz respeito ao desarmamento das partes em conflito. Armas são úteis na guerra. Ao convívio democrático, de que a paz não a guerra é atributo, o exercício correspondente fundamenta-se em argumentos e é feito pela via do entendimento. Não é vão chamar-se ao palco onde mais aguda é a convivência política de parlamento. Parlare, parler, parlar, falar – dos sonhos, das propostas, das ações interessantes aos diversos segmentos da sociedade é tudo quanto, por todo o tempo, deve ocupar os profissionais da política. Até a mentira, cuja produção se tem mostrado abundante nestes dias de pandemia e CPI, tem seu lugar nesse jogo nem sempre saudável. Menos pelo que se ouve ou lê, mas pelo que a falsidade revela dos que a criam e proclamam. Isso me leva a, no máximo, deplorar a conduta de certos portadores de mandato popular, quando reivindicam a despolitização do debate político. Para ser generoso, admitirei ser pura ignorância ou déficit de percepção do mandatário conduta tão inadequada. Se a comissão – qualquer uma – é constituída no cenário do Parlamento e são os membros deste que a comporão, sob as regras específicas da Casa Legislativa, seu caráter é, em essência, político. Nem precisaria manter o I central da sigla. Até me dispenso de mencionar quanto todo e qualquer gesto humano é marcado pela Política, não tivesse Aristóteles dito isso, faz tempo. Outra consideração oportuna diz respeito à eventual impossibilidade de algum dos participantes expressar sua vontade, seja qual for o constrangimento que o afete. Neste caso, o prejuízo maior é imposto à própria Política.
Incomoda-me, ainda, certo raciocínio tacanho, consistente em misturar no mesmo balaio questões de natureza diferente. Omar Aziz e Eduardo Braga, mesmo Fernando Bezerra Coelho não poderiam participar da CPI, porque também têm envolvimento em processos judiciais. Caso essa fosse razão para afastar alguns dos membros do órgão de investigação, talvez não houvesse número suficiente de senadores para os substituir.
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