Tornou-se quase regra a tolerância da população, sempre sob a tenaz influência dos formadores de opinião, seja lá o que isso queira dizer, a concessão de pouco mais de três meses desde a posse, de tolerância em relação aos governo recém-instalados. Exatos cem dias era quanto exigia essa espécie de trégua, mesmo nos tempos em que as fake-news não constituíam o grosso(!) das matérias divulgadas, nem os novos governantes eram forçados a um esforço de reconstrução de tudo quanto fora destruído. Não é que as formas de fazer política e os próprios interessados na disputa do poder fossem feitos de outro barro. Também não eram muitos os anjos encontrados, como exceção, nesse curioso microuniverso. Podia-se supor, às vezes por exagerada tolerância ou ingenuidade, que a busca do poder tinha alguma relação com o desejo de tornar melhor a sociedade. O sentimento de que não há sociedade melhor do que a qualidade de seus construtores ainda tinha algum significado. Até a aparente certeza de que homem nenhum é uma ilha (como a disse o pastor anglicano John Donne - 1572-1631) ajudava a situar o homem no universo, e dizer de suas responsabilidades como membro da sociedade. Nada disso motiva mais, pelo menos a maioria das populações. Parte delas contribuindo, pela ignorância cuidadosamente planejada em que é mantida, para a tragédia a que se assiste - no extermínio dos Yanomami, na devastação florestal, na poluição dos rios e cidades mundo a fora, no desmerecimento das condições que fazem do animal bípede um ser humano. Estabeleceu-se de tal forma o ódio como ingrediente essencial ao processo de acumulação e concentração da riqueza a que ele levou, que a Vida humana já não é levada em conta. Ou, se o é, concebida, proclamada, defendida e usada para manter a desigualdade, se não for possível ampliá-la. Esta ultima, porém, é hipótese excluída, porque ao ódio não cabe repudiar a desigualdade, nem admitir sua mínima redução. Pois é ódio dessa origem e desse tipo que reduziu a 24 horas a lua-de-mel do Tripresidente brasileiro com os grandes grupos financeiros, os que vivem à custa de ajoelhar-se ou prestar serviços a eles e os que, de alguma forma sempre recolhem os restos que caem da mesa do grande banquete. Essa a razão maior de, ainda não decorridos sequer 50 dias de mandato, Lula já despertar a ira dos que se sentem ameaçados. Não na eventual retaliação que, em passado louvado pelos mesmos adversários de hoje, traduziam-se na prática de tortura, nos assassinatos, no desaparecimento físico para todo o sempre, tudo acobertado pelo detentores do poder. Não se passou ainda metade do tempo antes concedido a todos os que chegavam ao poder, e já falta a tolerância antes habitual. Parece que o ódio se tem voltado, nestes tempos em que pequenos organismos naturais chamados vírus e os vermes humanos que a eles se acumpliciam, contra a Esperança. Mas, enquanto ela houver, haverá Vida. E a dignidade desta está posta em jogo. Com ela ficará quem lhe der importância. Chega de mortos-vivos!
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