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Orfandade

É magistrado e articulista de A Crítica quem chama a atenção para problema que logo baterá às portas do poder público, sem que muitos dele se tenham sequer apercebido. Refiro-me a Lupercino Nogueira, que em seu texto semanal menciona o desfazimento de lares e a consequente orfandade de expressivo número de crianças, por conta da covid-19. Dentre essas, não são poucas as que mal deram os primeiros passos ou ultrapassaram a primeira infância. Se a mortandade da doença em grande medida se alimentou da contribuição das próprias autoridades, a mortalidade alcançou nível que só o enfrentamento da pandemia teria condições de evitar. Ocorreu, no Brasil, o contrário do que seria justo esperar e exigir. A conduta dos maiorais foi claramente voltada à negação da Ciência e de toda forma razoável de combate à pandemia. Em Manaus, em determinado período considerada o epicentro do fenômeno, a falta de oxigênio, o envio do gás para outra unidade amazônica da Federação e a intensa campanha oficial favorecendo o uso de medicamentos sem eficácia contra o mal, há como em todo o País, imensa população de órfãos. Há casos em que morreram ambos, pai e mãe, sobretudo no segmento mais sacrificado da população. As respostas oficiais parecem tornar exclusiva a preocupação com o funcionamento do que chamam economia, como se esta fosse (ou devesse ser)avessa a qualquer interesse das pessoas, a não ser às pertencentes ao segmento mais bem provido. Dizer que não há políticas públicas é, no mínimo, prova de desatenção. Acontece, todavia, que as decisões (ou a falta delas) são tomadas segundo propósitos e critérios baseados em preferência de que não goza a maioria. Por isso, é necessário que, passada a pandemia, não se sabe quando, o governo em todos os seus âmbitos deve voltar-se para os mais pobres, os que tiveram suas famílias desfeitas, suas esperanças destroçadas, antes do que quer que seja. Sei que não é algo fácil, menos por que faltem recursos. Estes, sabemos todos, há e a dinheirama é levada aos de sempre. A desigualdade de que nos fazemos campões mundiais não precisa mais de que se lembre dela. Os pais da pátria, porém, não sabem,como tratar da orfandade, sobretudo aquela para a qual deram vigorosa contribuição.

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