A cerimônia de promulgação do Plano de Erradicação dos Contemporâneos é mais uma das muitas evidências da necropolítica posta em prática no País. Os pretextos para desdenhar da inteligência dos brasileiros não conseguem esconder os aspectos e intenções mais perversos que subjazem à celebração. Um deles, relaciona-se à fidelidade dos promotores e articuladores da emenda constitucional feita de afogadilho e com objetivo difícil de ocultar dos menos desatentos. São os ricos que mandam no País e os que deles se fazem porta-vozes e defensores. Pode-se até, diante do que se tem observado, admitir serem os pobres amados por essa porção podre do Brasil. Se, ontem, a seca do Nordeste irrigava os interesses mais hediondos, a fome, generalizada, traz expectativas de ainda maior enriquecimento. Refiro-me à acumulação exclusivamente material, único pano em que podem operar indivíduos com a índole dos que avançam sobre o patrimônio e as esperanças dos brasileiros, para fazer maior a festa dos que exploram desde seu suor e seu sangue, até o direito de sonhar. Sem a leniência de uns, a ingenuidade de menos ainda, a malícia de grande parte, e os apetites de grupelhos instalados quais cracas terrestres nos escalões de mando, difícil seria chegar-se ao resultado que a (sem)cerimônia de ontem promoveu. A irresponsabilidade, como tantas outras coisas e valores, desde janeiro de 2019, atravessou todas as porteiras. Não são só os aspectos fiscais devem ser destacados, em mais esse episódio da tragédia brasileira. A rigor, e comparado com a conduta oficial face à pandemia, o novo assalto parece coisa minúscula. Também é incomparável à violência em vigor, que começa por condenar ao silêncio e ao apagamento total as denúncias formuladas contra autoridades públicas e acaba na proliferação de grupos suficientemente armados, até para acabar com a festa e a vida de quem a festeja com a família e amigos. Dizer que vivemos tempos de morte deixa de ser contraditório, quando se tem olhos de ver. Por Gabriel Garcia Marquez soube-se de morte anunciada. Observando a cena brasileira, sabe-se ser ela cultivada. Como objetivo oficial, e dispondo de todo o arsenal (vá lá!) com que contam as autoridades do que deveria ser uma república. Que deixa de sê-lo, quando cada passo dado é no sentido de substituir o que se pensava Estado Democrático de Direito por monarquia que deixaria Momo envergonhado. Fica difícil saber se a corte precisa do rei ou se o rei precisa da corte. Dispensável cogitar, tão simbiótica essa relação se apresenta. Aos súditos, os brioches! Se ainda os houver...
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