Faz algum tempo, percebi que muitas das ideias e propostas do PT-raiz se foram alterando, razão suficiente para descaracterizar a tarja de extrema esquerda a que a sigla aspirava. Isso, longe de me fazer crítico irracional ou adversário destemido ou, ainda, inimigo figadal da legenda e de todos os seus membros, trouxe-me às considerações ora registradas. Reiteradamente agredido por alguns petistas de berço, nenhum peso teve esse fato no acompanhamento da trajetória do Partido, nem me levou à desqualificação dos que o integram. Ao contrário, penso ter alcançado nível de discernimento capaz de entender melhor o processo político e seus protagonistas, partidos e lideranças. Talvez me venha ajudando a leitura de uma obra em que as vicissitudes do socialismo soviético são relatadas, com o sacrifício de muitos dos melhores quadros que o PC da URSS conquistara. Falo dos primeiros 40 anos do século passado, quando o comunismo de Stalin produzia mortos e, pior que isso, desesperança. a tal ponto, que foi utilizada a expressão realpolitik para denominar tais práticas. Sem qualquer intenção professoral, entendo que a expressão decorre da busca de ajustamento entre a ideologia original às condições reais em que ela opera. A realidade prevalecendo sobre os propósitos e mantendo no chão os pés dos que sonham. Ou seja, o estabelecimento dos limites em que os valores, propósitos e projetos serão implantados. É verdade que o lema o mundo marcha para o socialismo parece superado, desde a simbólica derrubada do muro de Berlim. Hoje, já se sabe ser a Rússia, a mais poderosa das nações da antiga URSS, nada menos que um promotor e defensor do capitalismo de Estado. Condição que também pode ser atribuída à China, cada qual guardando algumas peculiaridades. A palavra inventada no século XIX foi lembrada por um comentarista político da televisão e despertou em mim interesse pelo tema. O Partido dos Trabalhadores pouco tem, hoje, que possa relacionar seu projeto ao cada dia mais esquecido socialismo. Chamá-lo de extrema esquerda é despropósito que só a ignorância ou a desonestidade justificaria. Os dois governos de Lula e o governo de Dilma Russeff dizem disso, fato inconteste que nem mesmo o Tripresidente se esforça por desmentir. Absolutamente obedientes aos preceitos fundamentais do capitalismo, o que ambos fizeram foi avançar na proteção dos mais pobres, onde está a força de trabalho que permite manter o processo de acumulação com exagerada concentração da riqueza. Lula se tem gabado disso, e não é sem razão. Estaríamos mais próximos da verdade, a meu juízo, se atribuíssemos aos governos do PT certo tom social-democrata. Sem destruir com vigor, tornando impossível a restauração, o processo de acumulação iníquo pretende tornar menor a desigualdade, em especial por aumentar a capacidade aquisitiva de todas as camadas da população. O que seria consumar um dos maiores e permanentes sonhos do capital: ter sempre mais gente adquirindo os produtos que os capitalistas produzem. Consumar, portanto, o sonho de consumo da população. Sem alterar as relações sociais que produzem e espalham a desigualdade, mundo afora. Isso nada tem de socialismo. De comunismo, menos ainda.
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