O homem vale pelo que faz.
Fora da cidade de 22 a 27 de novembro, não estive dentre os que testemunharam cerimônia das mais importantes para a cidade de Manaus, o Amazonas, a Amazônia e o Brasil. Também para o Planeta, sempre presente no olhar do homenageado. Refiro-me à inauguração do Memorial Samuel Benchimol, instalado no Centro Cultural dos Povos da Amazônia. Se há homenagem justa, essa terá sido das poucas incluídas nessa categoria, em especial pela figura que a motiva e pelo momento de aproximação com a barbárie, por Benchimol sempre rejeitada. Ao visitar a exposição permanente, estou certo de lá encontrar muitas das peças que me instigavam o pensamento e a reflexão, nas poucas vezes em que visitei o colega, sobretudo professor de todos nós que o tínhamos como um ícone na UFAM. Tudo o que se disser sobre Samuel Benchimol não bastará para descrever aquele profissional, nem para esboçar completamente o homem que ele soube ser. Minha manifestação de agora é apenas mais um retalho da percepção que tive dele, em convívio no ambiente acadêmico e na leitura atenta de suas obras. Uma das manifestações referenciais e reverenciais está contida em obra já publicada (Samuel Benchimol – curiosidade e criatividade a serviço do conhecimento. IN Zênite econômico e nadir econômico-social. 2ª edição. Manaus, AM. Editora Valer, 2010. p. 223). Outra (Nênias Modernas, Editora Paka-Tatu, Belem-PA) está em vésperas de ser lançada. Acrescento, agora, a comprovação da seriedade com que Samuel Benchimol encarava sua missão educativa. E a forma com que disseminava o conhecimento a cuja busca dedicou toda sua vida, que neste 2023 alcançaria um século. Aproveito para relembrar fato que aumentou minha admiração pela conduta intelectual de Benchimol. Sabedor de minhas relações cordiais com o renomado mestre, um amigo pediu-me interceder junto a ele. Dirigente de uma entidade cultural e educativa, desejava levar aos associados dela conhecimento que sabia parte do enorme cabedal ostentado pelo colega mais velho. Senti-me, com o pedido, gratificado. Nenhuma outra tarefa me pareceu tão honrosa quanto levar um convite à pessoa requisitada pelos que desejavam aprender sobre a Amazônia. Afável como sempre, mestre Samuel recebeu-me em seu gabinete da Rua Miranda Leão. Já aposentado oficialmente, ele continuava frequentando as salas de aula, enchendo de saber e sabedoria o ambiente acadêmico. Mas recusou o convite para proferir uma palestra. Àquela altura, informou-me com a singeleza dos sábios, não arriscaria comprometer e tisnar o conceito e o prestígio conquistados em intenso e comprometido projeto de vida. Estava certo de que o lapso de memória é fácil superar, quando ocorre o reencontro entre professor e alunos. Não o é, no entanto, quando se trata de encontro quase casual, esporádico, infrequente. Por isso, o pedido de meu amigo não podia ser atendido. Tanto eu como o solicitante compreendemos e nos solidarizamos com o sábio que havia recusado nosso pedido. No caso de Samuel Benchimol não se tratava de fuga da responsabilidade por todos reconhecida, mas da preservação de uma imagem que tinha como matéria-prima a dedicação ao estudo e ao pensamento analítico que o convidado sempre cultivou. Justamente classificado como amazonólogo, Samuel Benchimol teve no Pará um cúmplice na aventura de estudar e interpretar os fenômenos naturais e sociais da Amazônia. Esse foi Armando Dias Mendes. Não são poucos, nem demasiado numerosos os que participaram do esforço interpretativo dos dois. Ainda hoje se podem contar alguns deles. Poucos, porém, com tanta determinação e clarividência quanto Benchimol e Mendes o fizeram. Felizes os que puderam, ao menos uma vez, tê-los ouvido e lido. Os mais sortudos, várias vezes. O autor sendo um deles.
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