Nenhum momento da história recente do Brasil foi mais propicio à efetivação de um golpe. Não me refiro ao golpe de Estado em favor dos milicianos, dos cultores da ditadura, dos ladravazes instalados das diversas instâncias e níveis do poder, do empresariado associado a quem lhe assegure crescentes e escandalosos lucros. Golpeada, se houver um mínimo de consideração das necessidades sociais, será a promiscuidade mantida entre o poder público e as elites, dificultando saber-se onde começa um e qual o lugar das outras. A identificação do Estado como agente operativo do grande capital, se não é de hoje, quando se tem alterado, é no pior sentido. Operou-se de tal modo essa aliança, que seria incorreto dizer-se público o aparato institucional do Estado. A captura deste pelo setor privado, especialmente pelos grandes capitais, alastrou a privatização dos mais importantes serviços e funções do Estado, desde que isso resulte na oportunidade de maior concentração da riqueza. Daí, ao aprofundamento da desigualdade de que nos fizemos campeões. Essa realidade, para ser alterada não depende de um golpe, seja de Estado, seja de sorte. Do primeiro, que conhecemos desde a proclamação da república, não resultaram mais que práticas e costumes geralmente rejeitados nas palavras, estimulados, disseminados, cultivados nos atos e decisões que impactam a vida de todos. Assim, o golpe necessário pode ser dado pelo Congresso Nacional, a partir do reduzido número de parlamentares nos quais resta, ainda que reduzido, o sentimento de interesse público. É na CPI instalada no Congresso que se pode encontrar o bisturi competente para rasgar o tumor da corrupção, já não mais latente ou escondida no interior e nas sombras dos gabinetes oficiais. Cumpre, portanto, espremer o tumor, até esgotar o pus que irriga todo o corpo do Estado, sob a proteção da mentira e do autoritarismo boçal (desculpem a redundância)em vigor. Já ganhou oportunidade, e por isso pode atrair maior número de deputados e senadores, o processo de impeachment contra o Presidente da República. Às dezenas de propostas engavetadas pelo ex-Presidente da Câmara, esta semana se juntou outro, desta vez reunindo segmentos sociais diversos. As repetidas manifestações em cidades de todo o País e os números das mais recentes pesquisas não dizem outra coisa – basta de tanta ignomínia e indignidade! Estas e seus promotores devem sofrer a ação do bisturi rompedor, cujo golpe cumprirá o rito constitucional, até para servir de lição aos que, inimigos do Estado Democrático de Direito, assumem o papel de justiceiros, não mais que milicianos engravatados, para os quais Constituição e todo o ordenamento jurídico que a segue devem submeter-se a caprichos, sentimentos e interesses pessoais. É chegada a hora do basta!
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