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Não é Biden, mas o sistema

Faz muito tempo, convenci-me da farsa que é atribuir aos Estados Unidos da América do Norte papel exemplar do que conhecemos por democracia. Pelo menos, segundo critérios que percorreram longo caminho até serem consagrados. Um deles, o que faz da Política o espaço onde a vontade humana se manifesta. As eleições periódicas corresponderiam, portanto, às oportunidades em que essa vontade pode ser manifestada individualmente, ao final representando a preferência da porção majoritária da população, sem ignorar a opção contrária. Tal vontade, porém, é suscetível de ameaças das mais diferentes inspirações. Para exemplificarmos com o Brasil, basta lembrar a superação do voto em cédulas fechadas em envelopes que os coronéis de barranco e senhores de terras distribuíam, às vésperas do pleito. Sabiam de antemão qual seria o resultado, contadas as cédulas. Chegamos à urna eletrônica e há quem a ache propícia às fraudes e ao sacrifício da vontade dos eleitores. Nesse caso, o avanço da tecnologia e do processo eleitoral empacou diante do atraso mental dos que repudiam o menor sinal da democracia. Também a força do dinheiro altera a inspiração do eleitor. A compra de votos permanece como prática, sendo certo que desequilibra a disputa entre candidatos e partidos diferenciados pela fortuna dos postulantes. Aqui, chego ao cerne de minha crítica à consideração dos Estados Unidos da América do Norte como exemplo de democracia. Lá, sei eu e sabem tantos quantos tenham a mínima informação sobre os costumes da sociedade norte-americana: quem ganha as eleições é o dinheiro. Agora, com efetiva e volumosa ajuda das fake-news. Estas, como se sabe, dependentes dos recursos financeiros dos candidatos. Já nem me atenho ao que parece comprometer seriamente o direito individual e a igualdade perante a Lei, relativamente a uma democracia que mereça tal nome. O voto individual, a manifestação da vontade do eleitor se dilui, obediente à forma indireta da escolha do Presidente. Quando Hilary Clinton foi derrotada por Donald Trump, a maioria dos eleitores registrou preferência por ela. Um sistema de eleição indireta que esconde a preferência dos indivíduos (eleitores) certamente atenta contra a vontade individual. O que espanta é o individualismo cultivado naquele País ruir diante do interesse do dinheiro. Disso decorrem tantos outros males, que uma democracia verdadeira impediria. A prática rotineira de chacinas, que só neste 2022 já registra mais de 400 ocorrências, devidas à enorme facilidade de adquirir e usar armas de fogo tem muito a ver com isso. Neste caso, independe de quem ocupa a Casa Branca. Não custa lembrar que alguns dos supostos santos que despacharam no salão oval mataram enormes contingentes populacionais em todos os continentes, ao longo do século XX. Atividade ainda não encerrada, eis o conflito que Ucrânia e Rússia protagonizam. Os sucessivos governos dos norte-americanos, quando não fazem por si mesmos, têm sempre seus prepostos dispostos a fazê-lo. Para lá parecemos estar indo...


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