Destacarem-se as caracterÃsticas surreais de nossa vida social parece pouco. Melhor seria tentar compreendê-las profundamente. Só assim chegarÃamos à condição de propor decisões que levassem a polÃticas públicas eficazes, promissora e duradouras. Tanto nos temos aproximado do surrealismo e tanto nos temos deixado vencer por tolo e inconsequente pragmatismo, que contribuÃmos para tornar ainda mais absurda a tragicomédia que todo dia se alimenta e renova. Mero e fugaz traço de união, o presente absorve todos os nossos dias, quando o passado é irrecuperável e o futuro estará sempre diante de nós. Ainda agora, somos tomado de certa surpresa ao verificar a falência de valores, crenças e práticas traduzidas em conduta absolutamente incompatÃvel com os ares de civilidade e civilização de que somos presumÃveis portadores. Diz a história, sem qualquer cerimônia, ter sido Caxias, Luiz Alves de Lima e Silva, um pacificador. Ponhamos de lado as controvérsias a respeito de como ele teceu a paz mencionada. Atenhamo-nos, portanto, à qualificação que lhe deu lugar em nossa História. A ponto de torná-lo o patrono do Exército Brasileiro. Comparemos os feitos a ele atribuÃdos, ainda mais avultando a influência dele no que se considera a paz social. Coloquemos tudo isso como medida de comparação, levando em conta o que se tem observado no cotidiano dos brasileiros, desde o dia 31 de outubro passado. Desde aÃ, vêm-se instalando na frente dos estabelecimentos que se dizem orientados segundo os valores ensinados pelo patrono da força terrestre, verdadeiros arraiais. Como se todos não tivessem deveres diferenciados dos mercados existentes em quase todas as cidades brasileiras. Pior, as instalações estão ali exatamente na tentativa de exortar os cidadãos ao conflito social, o avesso da paz de cuja atuação resulta a reverência a LuÃs Alves de Lima e Silva. Nem se considere o fato de que quartéis são mantidos com o dinheiro do contribuinte-cidadão, tanto quanto é paga a remuneração devida aos que lá prestam serviço ao Estado brasileiro. Agrava essa contradição um outro aspecto, talvez o mais relevante de todos: a flagrante desobediência à letra da Constituição Federal. Nesta, arcabouço que dá sustentação a um Estado Democrático de Direito, é posto em xeque um dos princÃpios basilares do que se tem conhecido como democracia - a voz do eleitor, expressa nas eleições e nos meios mais avançados de fazê-la fiel à vontade de quem vota. Parte da maioria ou da minoria, todo brasileiro votante contrai deveres iguais perante a chamada Carta Magna, nem por isso imune à malignidade dos que a rejeitam, desde que insatisfeitos em sua voracidade pelo poder. Os arraiais de Caxias, hoje integrantes - e não se sabe até quando - da paisagem urbana do PaÃs são o registro do quão distantes estamos de fazer jus ao conceito mais elementar de democracia. Tanto quanto - talvez até mais - o dever de cada cidadão na luta que há de culminar com a concretização do preceito de que todos são iguais perante a Lei. A maior delas, sobretudo.
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