Nosso cotidiano

Faltasse algo para configurar a desídia com que tem sido enfrentada a pandemia pelo governo federal, a suspensão da vacinação em várias capitais e em diferentes oportunidades, fala por si. E por muito mais, do que se soube, do que já se sabe e do que ainda se saberá. Não há como ignorar o papel desempenhado pela CPI do Senado, à parte o envolvimento de alguns de seus membros em fatos igualmente investigáveis. Importa destacar, sobretudo, não estar nenhum dos senadores prestando um favor à população, mas tentando cumprir uma das obrigações fundamentais do Parlamento, qual seja a de fiscalizar os atos de outro poder republicano. Quanto às responsabilidades a cobrar dos senadores sobre os quais pesam suspeitas, nada melhor que serem acionados os mecanismos de controle existentes, desde a Polícia – em todos os seus níveis e âmbitos, federal e estadual; civil e militar -, como o Ministério Público, onde quer que se encontrem os fiscais das leis, por isso representantes da sociedade. Sabe-se, ainda, e o conhecido exemplo de Al Capone ilustra, quanto pode ser cobrado da Receita Federal o desvendamento de tanta maracutaia. Nada disso dispensa a contribuição de cada cidadão, até como forma de mostrar seu interesse pelo bem-estar não só dele, mas de todos os demais integrantes da sociedade. Não se espere encontrar, no Parlamento, no Executivo, no Judiciário coletivos de anjos, todos eles voltados à conquista da santificação. Isso corresponderia à divinização, onde ela não cabe, a despeito dos maléficos propósitos que a têm inspirado. Lembremo-nos da recomendação encontrada até nos chamados livros sagrados: a Deus o que é de Deus, a César o que é de César. Que a CPI da covid-19 continue a remover as entranhas podres dos poderes, onde quer que elas estejam radicadas! Que as instituições (reiteradamente alegadas em pleno e perfeito funcionamento) cumpram com exatidão seus deveres constitucionais! Que todo cidadão faça prevalecerem os direitos amparados pela Constituição e não se intimidem! Disso depende nosso futuro como nação. Não se espere, todavia, que isso será obra de deuses ou mágicos. Significa dizer obra da sociedade, a ser construída dia-pós-dia.