No limite

Faz muito tempo, dois anos no mínimo, me convenci da indigência do ex-capitão que, excluído das forças armadas, chegou à Presidência da República. Confesso, porém, ter dado uma fraquejada que me levou a admitir ser ele, apesar de tudo, apenas uma pessoa(?) ignorante. Daquela ignorância que acaba por fazê-lo divertido. A linguagem chula, as piadas de mau gosto, os costumes enviesados o levariam a desatar gargalhadas nos companheiros, nenhum deles tão tosco ou mais indigente que ele. Bastaram três anos para ver alterada esta percepção, distante da realidade como Saturno dista da Terra. Se faltava algo para confirmar a suspeita inicial, já não falta. Todas as anteriores demonstrações de estupidez não haviam servido para manter a suspeita inabalável; a superação da percepção original encontrou arrimo ao lado do chiqueirinho que o próprio Presidente montou e mantém em frente do Palácio Alvorada. A fúria com que ele avançou sobre um ex-colega, não houvesse tantas testemunhas, certamente o teria levado a cometer um crime inédito, dentre poucos que ele não vem praticando. Seria o clímax de sua carreira, em ato ainda não praticado, mas reiteradamente mostrado potencial. Talvez ele não se sentisse tão gratificado, porque 30.000 ou 700.000 mortes não lhe teriam bastado. Tudo se resumiria a um só morto. Coisa pequena, mas à altura de quem não tem credencial para fazer mais. Volto ao início. As primeiras observações sugeriram oferecer-lhe um posto de supervisor de segurança em prostíbulo de terceira categoria, na periferia de qualquer cidade do interior do País. Estaria de bom tamanho e não lhe causaria o desconforto de ter ultrapassado seu nível de competência. Quem leu "Todo mundo é incompetente, inclusive você" sabe do que trato aqui.