Nem raposa, nem galinheiro – o ovo
- Professor Seráfico
- 15 de out. de 2021
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Talvez não haja outro País em que a democracia seja desejada pela maioria da população, desde que o poder de mando seja assegurado a quem fala. Essa parece a máxima subjacente ao propósito de bom número de parlamentares, desejosos de anular o incontestável avanço do Ministério Público. Prestigiada pela Constituição chamada cidadã, a instituição vê agora ameaçado o importante papel de representante dos interesses coletivos e defensora dos direitos difusos, aqueles comuns a cada um e a todos os detentores de cidadania. A rigor, pretensão não destoante do cenário geral, em que a república, a democracia, o direito, a moralidade e tudo o mais que a acompanha enfrentam permanente assédio. Disse-se, até recentemente, terem sido entregues à raposa os galinheiros identificados na estrutura da administração (ex)pública brasileira. Exemplo magno e recente dessa teratologia burocrática e política, a permanência de Paulo Guedes no Ministério da Economia ainda não pode ser considerada o topo desse maligno processo, também deletéria pretensão. Neste caso, os beneficiários da imoralidade são a própria autoridade fazendária, o gestor das políticas financeiras e monetárias e pequeno grupo de investidores, cuja presença na máquina oficial do Brasil está por ser quantificada. A motivação sobre a qual se sustenta o ataque ao Ministério Público envolve boa parte dos próprios parlamentares, fragilizados se o MP desempenhar seus deveres com a necessária autonomia que a Constituição-cidadã assegurou. Falar de raposa e do galinheiro, portanto, é olhar para o passado. Não apenas quanto à regressão que vimos experimentando se vincula a tentativa de Arthur Lira e sua turma. Eles estão de olho, realmente, nos ovos ainda não postos, mas esperados. Veem o futuro e sabem o que podem esperar dele. De leis, por dever de ofício, eles entendem. Tanto quanto das consequências das ações que as agridem. Inclusive as da área penal.
Meu bom professor, as instituições vêm sendo desestruturadas e desvirtuadas pela ação dos seus gestores, que cumprem o papel que lhes é atribuído pelas elites, não pela Constituição.
Embora a presença de valorosos representantes nessas várias instituições, a enxurrada de privilégios e benesses pecuniárias acabam por acomodar os seus protagonistas e, enfim, o conflito de interesses parece que já não existe, com a sobrevivência do interesse pessoal e o silenciamento do bem comum.
Como se já não bastassem tantos penduricalhos financeiros, eis que o Judiciário tem na venda das férias dos meritíssimos mais um escândalo. O orçamento dessa gente não é submetido aos representantes do povo e parece não precisar de justificativas da proveniência dos recursos, aparentemente ilimitados.