É recorrente a constatação de que o hiato democrático inaugurado em 1964 responde pela ausência de novos e genuínos líderes no cenário político brasileiro. Não, pelo menos, dentro dos padrões aceitáveis em uma república, além do mais quando ela mesma se anuncia instalada em Estado Democrático de Direito. Parecem escapar aos analistas, à maioria deles pelo menos, os vínculos entre Economia e Política e como eles se criam, conformam e desenvolvem ao longo do tempo. Põem-se as relações políticas, portanto, desligadas dos interesses que a ela acorrem e o que tal aproximação produz, no dia-a-dia dos cidadãos e nas determinações dessa relações quanto ao futuro da sociedade respectiva. Ou seja, pensada como o espaço onde melhor se põem em jogo as vontades individuais e coletivas, a Política vai-se transformando em arena da mais constrangedora prática, em que a sociedade é perdida de vista, para emergirem apetites tão vorazes quanto agressivos. Arena desprovida de limites, em que a vontade – ela mesma, ainda que traço distintivo para dizer dos animais serem racionais ou irracionais – se submete a influências cada dia mais malignas. Porque se à Política em sua acepção mais generosa está reservado papel dos mais relevantes na vida social, a vontade distorcida atrai a força dos indivíduos e de seus coletivos. A energia das ideias e dos ideais, então, se vê substituída por interesses quase sempre danosos ao convívio saudável e ao aperfeiçoamento da espécie, para muito além de sua perpetuação. Qual brasileiro minimamente interessado na Política e seus altos propósitos, imaginaria chegar à tragédia que nos acomete nos últimos anos? Qual de nós teria pensado um dia em ver presas ao gabinete mais importante de Brasília as nádegas de um ser capaz de levar ao ambiente nacional práticas e condutas que, não é difícil identificar, produziram quatro rebentos como os numerados de 01 a 04? Pior, detentores de poder e influência só registrados nas monarquias mais retrógradas que se pensava terem ido de vez com a queda da Bastilha. Ao que se sabe, nas terras americanas o Haiti de Duvalier, o Peru de Fujimori, a Cuba de Fulgêncio Batista, a República Dominicana de Trujillo teriam sido os mais recentes exemplos. Com tudo o que os tornou exemplos – a não serem imitados. O Brasil perdeu, ao longo das últimas seis décadas, a oportunidade de apresentar-se à comunidade internacional com o prestígio que as riquezas naturais e a já perdida alegria do povo justificavam. Daí o espaço ser ampliado para tipos como os numerados com zeros à esquerda, ou chamados Moro, Dallagnol, Doria, Waldemar Costa Neto, Daniel Silveira, apenas débil e escassa amostra de toda uma grei interessada nos cofres públicos mais que na solução dos problemas que fazem um sacrifício a vida dos cidadãos trabalhadores e contribuintes. Certo que houve frustrações do lado dos que pensavam contribuir para uma nação forte, respeitável, próspera em todos os sentidos, em especial na redução das desigualdades que nos marcam. Mesmo em segmentos altivos e lúcidos como a própria Igreja, partícipe certa nos mais obscuros momentos de nossa História, sente-se já não ser possível contar com sacerdotes como Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Hélder Câmara e Júlio Lancelotti, para ficar nos mais reverenciados. É para desistir? Não!!! Ao contrário, onde há a escuridão, uma vela pode fazer a diferença. Onde há silêncio, o grito haverá de soar mais alto!
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