A carta aberta assinada por importantes economistas e lideranças empresariais brasileiros, em três dias viu triplicado o número de signatários. Eram 506 as assinaturas originais; hoje os jornais estimam em mais de 1.550 os aderentes à manifestação. Nela, como destaca a jornalista Eliana Serra, nenhuma palavra ao menos sobre a taxação das grandes fortunas. Muitas delas com a assinatura posta ao fim do documento. Ainda assim, admitamos ser isso o de menos. As críticas feitas ao modo como o governo trata (?) a pandemia e as trágicas consequências da conduta negacionista não destoam de opinião que já se sabe majoritária na sociedade. Excluídos os 30% confortáveis na cumplicidade com o genocídio, as lideranças empresariais, ex-ministros, notáveis e alguns notórios apenas, ecoam o clamor ainda contido das ruas, a maioria silenciada – pelo vírus, pelo medo, pela desesperança. De qualquer forma, maioria à qual tudo tem sido negado, quando não se sente humilhada, punida, perseguida, simplesmente excluída duplamente. Primeiro, da mesa farta de que desfrutam os outros, muitos dos quais a carta aberta retrata como benfeitores. A outra forma de exclusão refere-se ao desdém dedicado às suas próprias reivindicações e pleitos, cidadãos como o são os signatários do manifesto. Também sentar à mesa em torno da qual deveriam ser presença obrigatória é oportunidade a essa maioria sempre negada. No entanto, seus esforços para obter um mínimo de atenção jamais encontra o eco que empresários, ex-ministros e economistas logram. Azar o da maioria, que não consegue, como os receptores da mensagem, ser um igual entre iguais. Ainda assim, há nessa perversa igualdade pesada nuvem de sombra, incompatível com qualquer forma de análise consistente. O exemplo é encontrado, clara e indiscutível, na reação das lideranças empresariais e profissionais do Amazonas. Mesmo sob reiteradas ameaças ao Polo Industrial de Manaus – ou em razão disso -, a recepção das críticas e comentários de seus iguais é hostil. Aqui, o medo de perder os dedos não apenas se presta a preservar os anéis, fazendo reféns os dedos alheios. Vendo na subserviência o melhor meio de atingirem seus objetivos, põem-se sobre o muro, porque se pensam habitantes da capital sueca. Sendo assim, demonstrar seu apego aos que sequestram os sonhos de que não participam tem sido a opção. Talvez desejem ajustar-se ao que o Presidente da República chama coitadismo - ou mimimi. Apanhar o que cai da mesa onde farto almoço é servido parece melhor que reivindicar um lugar à mesa.
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