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Foto do escritorProfessor Seráfico

Homens e livros



Noticia-se que o Brasil perdeu, entre 2015 e 2020, 764 bibliotecas públicas. A informação procede do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), órgão oficial, feito parte de uma secretaria subordinada à de Turismo, desde que extinto o Ministério da Cultura. O levantamento revela que a região Sudeste registra o fechamento de 685 (quase 25%) bibliotecas, restando-lhe 1.274. No Nordeste, onde funcionavam 1.844, desapareceram 37. Na região Norte, os leitores ficaram privados de visitar 39 bibliotecas públicas, representando perda de menos de 1%. No Centro-Oeste e no Sul foram desativadas 3 e 2 bibliotecas, respectivamente. No conjunto do sistema nacional, as perdas registram mais de 12% de unidades. Certamente, os leitores assíduos dos livros Diário, Caixa e Razão não sentirão nenhuma falta. Reação afinada com a que contempla a morte de quase 700 mil brasileiros que a covid-19 levou e ainda aplaude e rende homenagens aos que ajudaram o vírus a exterminar gente, especialmente aqueles por eles odiados – os pobres. Porque nada teria sido tão providencial para eles quanto uma causa desencadeada pela natureza, para eliminar a pobreza pela eliminação dos pobres. Como se vê, e todo dia mais, a necropolítica em vigor não poupa qualquer setor ou função da sociedade. Porque há uma espécie de fio condutor que atinge extensas áreas geográficas e funcionais, desde que nelas sejam identificados fatores de perturbação ou resistência ao ódio em que se sustentam tais políticas. Se aos quilombolas e indígenas são dirigidas substâncias nocivas ao organismo humano, a invasão de mineradores se incumbe de realizar o extermínio. Se, nas cidades, emerge o mais frágil sinal de resistência, às vezes passiva, os projéteis de revólveres sempre às ordens se apresentam. E também cumprem o trágico papel a que todos temos assistido. Lembrar que Monteiro Lobato dizia que uma nação se faz com homens e com livros, parece despropositado, quando o processo é avesso a tudo quanto se pode buscar nos livros. Menos memorável se torna, desejável nem seria próprio dizer, a frase do poeta Castro Alves, que louvava o propósito de termos livros - às mancheias, nas suas palavras. Ora, se a vida de Bruno Pereira, Don Phillips, Marielle Franco e seu motorista Anderson e Marcelo Arruda nada valem, por que pensar que livros interessam?

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1 Comment


swolffgeo
Jul 19, 2022

lembrando que existem livros que emburrecem e disseminam ódio e intolerância.

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