Orlando SAMPAIO SILVA
Não se estranhe o caráter aparentemente religioso deste artigo voltado a um tema histórico. Tudo decorre do fato de que me debruçarei sobre as origens do povo árabe. Ao fazê-lo, terei que recorrer a um documento escrito que lança luz sobre o tema, e este documento se chama Velho Testamento. Esta é uma denominação dada pelo cristianismo aos textos antigos, entre os quais os que fazem referência às origens de diversos povos, tais como os hebreus/judeus e os árabes, mas, também a propósito de outros povos. É evidente que as narrativas sobre a origem do povo árabe especificamente se encontram no “livro sagrado” muçulmano, o Alcorão ou Corão. Na Torá, “livro sagrado” dos judeus, como no Velho Testamento, “livro sagrado” adotado pelos cristãos encontram-se registros similares sobre as origens de diversos povos, como os árabes.
A origem do povo árabe, assim como a do povo hebreu/israelita/judeu, não está inscrita em escritos laicos do passado remoto. O Velho Testamento, a Torá e o Alcorão, todos eles do passado remoto, contêm narrativas mítico-religiosas, mas são as únicas fontes disponíveis aos estudiosos pósteros, para alicerçarem um esforço de reconstrução histórica referente a fatos ocorridos nessas priscas épocas, na Idade do Bronze.
Como estes três documentos, por seus conteúdos, em algumas das suas partes constitutivas se confundem entre si (ou um repete o outro), utilizarei, como fonte histórica o livro de minha autoria intitulado “Novas Interpretações Referentes à Formação e à Vida do Povo Hebreu/Judeu – Personagens Bíblicas” (Ed. Scortecci, S. Paulo, 2.022), o qual se fundamenta, principalmente, nos registros constantes do Velho Testamento.
O estímulo motor que me leva a esta escritura está embricado com a presente ocorrência trágica da guerra que envolve o Estado de Israel e parte do povo árabe na sua porção étnica denominada palestinos, em particular os habitantes na Faixa de Gasa, no Oriente Médio.
O dilúvio bíblico teria ocorrido como uma punição do Deus bíblico às suas criaturas, que desobedeciam suas determinações, que estavam vivendo em pecado. Lembrar que não se trata da destruição de Sodoma e Gomorra e outros pequenos lugarejos da mesma região em razão das formas pecaminosas como estavam se comportando os seus habitantes. Não. A pena do dilúvio foi consumada em época com grande anterioridade com relação a estes últimos eventos acima lembrados. O dilúvio puniu os descendentes de Adão e Eva, que viviam após uma sucessão de dez gerações entre o advento do casal primevo e a época da vida da família de Noé. Nesta sucessão de gerações houve uma linhagem de líderes, chefes de famílias, que se sucederam, em um povo que crescia a cada nova geração, os Hebreus. Até que, na décima geração, Noé ocupava esse status de liderança, quando teve lugar a grande punição, o dilúvio.
Como é sabido, com essa ocorrência catastrófica, das pessoas existentes no mundo de então, apenas não morreram Noé e sua família, aí compreendidos sua mulher e seus três filhos, Jafé, Cam e Sem (e os animais, cujos casais haviam sido salvos ao serem embarcados na arca de Noé - tudo conforme a Bíblia-Velho Testamento). O Mundo teria ficado, praticamente, despovoado (com aquela única exceção familiar).
Em face desse deserto humano, biblicamente, foi atribuído aos três filhos de Noé a incumbência de fundar novos povos, a saber:
- Jafé: gregos, trácios, citas, frígios e medos-persas;
- Cam: cananeus, egípcios, filisteus, hititas e amoreus (notar para o povo cananeu, que viria a viver em Canaã - Canaã, a terra dos cananeus -, no hoje Oriente Médio, vindo esta terra a ser a “Terra Prometida” por Deus ao povo hebreu! Também, deixe-se registrado o fato de Cam ter tido um filho chamado Canaã; e que esta terra é a mesma na qual se encontram, hoje, o Estado de Israel e, em áreas menores, o povo palestino);
- Sem: hebreus, caldeus, assírios, elamitas e sírios (povos semitas, entre os quais, no futuro inscrever-se-iam os judeus e os árabes).
Como se vê, o Velho Testamento atesta a origem, o surgimento de diferentes povos, não apenas a dos hebreus/judeus.
Veja-se: no livro sagrado (Velho Testamento ou Bíblia), está narrado que, dez gerações depois de Noé (dilúvio), se encontrava na liderança da linhagem de descendência que teria tido a sua origem em Adão, o chefe familiar e patriarca Abraão. A primeira esposa de Abraão foi Sara, que lhe deu, já na velhice e por intervenção divina, um único filho, Isaac. Aliás, Sara e Abraão eram irmãos por parte de pai. Sendo Sara infértil, ela ofereceu ao seu marido, como concubina, sua escrava egípcia chamada Hagar. A segunda esposa de Abraão foi Quetura, com quem ele veio a casar-se, quando se tornou viúvo.
Com Quetura, Abraão - este chefe familiar considerado biblicamente como o “pai fundador” e um dos patriarcas do povo judeu - teve os seguintes filhos: Zinrã, Jocsã, Mediã, Jisbaque e Sua. Então, veja-se o que ocorreu: cada um destes filhos abraãmicos deu origem a uma tribo árabe, das quais se tornaram chefes.
Registre-se, também, que, do concubinato de Abraão com Hagar (conf. acima) nasceu Ismael e este filho do patriarca, por sua vez, teve doze filhos. Estes filhos de Ismael fundaram cada um uma tribo árabe, da qual foram os chefes tribais e biblicamente considerados “príncipes árabes”.
Estava sendo fundado o povo árabe, sendo, assim este povo, também, de procriação abraâmica. Na língua árabe Abraão se chama Ibrahim.
Assim como o povo Hebreu que, desde a sua origem adâmica, era monoteísta, ou seja, cultuava um único Deus, os árabes, forjados por influências familiar do patriarca hebreu Abraão, também acreditavam em / e cultuavam um único deus, ao qual os muçulmanos denominam de Alá. Ambos esses povos são monoteístas, como se vê.
A Abraão foi acometido pelo deus de sua crença a missão de se deslocar com sua família extensa (descendentes adâmicos desde a origem - criação -, de cuja linhagem fazia parte Abraão) para Canaã, a terra que Deus estava prometendo ao seu povo, o “povo escolhido”, o “povo de Deus” (cf. o Velho Testamento). E Abraão se dirigiu com sua parentela de Ur, na Suméria (sul da Mesopotâmia, onde hoje se encontra o Iraque), onde ele e toda a sua linhagem parental, desde a criação, haviam nascido e vivido, para a “Terra Prometida”, que se situava na mesma região atualmente chamado Oriente Médio.
Como foi dito acima, nesta terra vivia o povo cananeu ou canaanita, além de outros povos quantitativamente menores.
Milênios e séculos foram transcorrendo, e, nesta terra conquistada em guerras pelos hebreus/judeus, viveram este povo e outros povos, sempre em relacionamentos aguerridos, disputando territórios. Povos mais poderosos, tais como os assírios, os babilônios, os persas, os gregos, os romanos (que passaram a nominar esta terra como Palestina) e, mais tarde, os otomanos, os árabes e os ingleses, vieram a dominar colonialmente essa região. O Templo de Jerusalém foi destruído duas vezes, sendo que a última vez pelos romanos. Os judeus empreenderam a diáspora, dispersando-se e vindo a instalar-se em muitos e diferentes países no Mundo.
Até que, a partir das últimas décadas do Século XIX, surgiu e passou a atuar o movimento sionista propugnando o retorno do povo judeu à “terra prometida”, e a Organização das Nações Unidas - ONU, após a vitória sobre o nipo-nazi-fascismo na II Guerra Mundial, por inequívoca influência de um diplomata brasileiro, Osvaldo Aranha (na época em que o Brasil era governado pelo ditador Getúlio Vargas), decidiu fundar dois Estados a serem instaurados naquela região do Oriente Médio. Então, lá estava vivendo uma fração do povo árabe, os assim denominados palestinos; também, alguns poucos judeus em meio aos palestinos. Deveriam ser criados um Estado para os judeus e outro para os palestinos. O Estado de Israel foi instaurado em 1948, mas o palestino, não, até hoje.
Do resto desta história nós nos tornamos testemunhas, um derramamento trágico que não é apenas do tempo, também e principalmente é de sangue humano! Matança de gentes que tiveram a mesma origem, ainda disputando territórios, hoje em um Mundo dito civilizado!!!
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