Fonte

Uma das constatações importantes para a compreensão da conduta das pessoas é oferecida por Ortega y Gassett: o homem é ele e suas circunstâncias. Significa ratificar quanto o entorno em que vive cada indivíduo influi na formação de sua personalidade. Agente e paciente, a trajetória pessoal é marcada por permanente troca. A sociedade, em constante transformação, propicia e exige alterações na percepção do mundo ao redor. Isso é que assegura, em graus diversos, a inserção de cada um e de todos à realidade social, palco e oficina a um só tempo. Todos somos pacientes, agentes também. Isso me desafia a reflexão sobre as mais recentes "descobertas" relacionadas ao comportamento abjeto do ex-presidente da Caixa Econômica Federal. Condutas semelhantes, de outros agentes públicos próximos e prestigiados pelo Presidente da República, têm sido reiteradas. Aqui entram as circunstâncias, ainda que seja discutível a atribuição de humanidade a alguns deles. Ninguém desejaria ser governado por um grupo de anjos, menos ainda daria provas de bom discernento quem tentasse ver inocência e imparcialidade nas pessoas - qualquer pessoa. É da cidadania, da República sobretudo, exigir isenção, algo que as próprias leis e a Constituição tentam impor como limites ao arbítrio individual, livre como o recebemos. Daí a sabedoria em classificar o Estado como Democrático e de Direito. A lei para todos e acima de todos. Não tem sido assim nos últimos anos. Há uma coisa, portanto, incapaz de gerar surpresa ou decepção, se estivermos atentos para as fontes onde o Presidente da República vai buscar os auxiliares. Não seria de esperar que ele os buscasse nas academias de letras, nem na Igreja. Seu mundinho nunca esteve próximo desse tipo de organização. Por isso, e pela asquerosa tolerância e cumplicidade de mandatários de outros poderes, ele se acha no direito de praticar todos os atos que seu paupérrimo cérebro elabora. Que 2 de outubro possa devolver à lama quem da lama veio. De lá, o que vem de melhor são os caranguejos.