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Foto do escritorProfessor Seráfico

Estranha estratégia

De cabeça de juiz e de barriga de mulher, houve tempo em que tudo quanto saia era surpresa. A ultrassonografia e o amor às câmeras e microfones derrubaram tais crenças. As grávidas e, em consequência, seus familiares e amigos, agora podem festejar mais adequadamente a vida que está por chegar. A revogação do velho preceito jurídico - o juiz só fala nos autos – se encarrega de alimentar as apostas na loteria judiciária. Mais recentemente, outras áreas revelam grau de surpresa e imprevisibilidade difícil de entender. Refiro-me, desta vez, à forma como se vêm conduzindo os membros da CPI do Senado, criada para investigar o extenso, farto e grave elenco de ilicitudes cometido pelo (des)governo brasileiro, no suposto enfrentamento da pandemia. A covid-19 prepara-se para registrar os seiscentos milhares de mortos, sem que aquele coletivo dê sinais de que percebe as cascas de banana que diariamente lhe são postas diante dos olhos. Graças a essa aparente desatenção, tem sido desafiada a cada nova sessão por provocações sem sentido, que não o de desviar-se de suas exatas funções e da expectativa gerada no seio da sociedade. É nítida a presença, na CPI, de senadores voltados a provocar o tumulto e entreter os demais membros com questões menores, como o têm feito os senadores Marco Rogério, Luís Carlos Heinze e Fernando Bezerra Coelho. Tal manobra, repetitiva, nem por isso tem evitado que o Presidente, o vice-Presidente e o Relator da Comissão se deixem engabelar. Assim, acabam por oferecer substancial ajuda aos baderneiros interessados em tudo, menos em pôr tudo sob a luz solar. Talvez não haja ignorância ou ingenuidade dos senadores empenhados em mostrar a podridão cada dia mais evidente. Não se descarte a hipótese de que a permissão para o tumulto venha do desejo de deixar o (des)governo sangrar, para chegar às proximidades de outubro de 2022 como o osso que as autoridades têm mandado os miseráveis comerem – sem carne. Essa, parece-me, seria estratégia admissível, não fosse copiosa a documentação recolhida como comprovação das ilegalidades até aqui perpetradas. Esse fato – a abundância de provas – e em outros comportamentos (a recusa em prestar juramento, o silêncio confessional, a desqualificação dos delatores etc. ) o gerador da suspeita de que toda e qualquer tentativa de tumultuar as sessões deveriam passar ao largo das respostas da mesa diretora. Dar atenção aos baderneiros equivale a prestigiar seu inglório papel na CPI.

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