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Diplomacia seletiva

Foto do escritor: Professor SeráficoProfessor Seráfico

A nota pública ontem divulgada pelos comandos das três armas reitera posições e condutas conhecidas, mas traz inovação impossível de ficar obscurecida. A reiteração contida na nota extrapola a dubiedade recorrente. Enxergam-se nossas forças armadas, ou pelo menos os que ocupam os mais altos postos, não apenas como detentores de um inexistente poder moderador. Desejam aplicar suas medidas e réguas a setores alheios aos seus deveres constitucionais, senhores que se julgam de todas as verdades sobre seja lá o que for. Essa porém, é presunção antiga, que só chega a assustar porque os arsenais e paióis têm suas chaves à disposição deles. A novidade fica por conta de uma nova pretensão, até então levada à conta dos políticos profissionais. Um tipo de comportamento falsamente diplomático. A prática de desferir marteladas alternadas, uma no cravo, outra na ferradura. Por isso, e sem nada que os autorize, os comandantes se arrogam o direito de oferecer interpretação peculiar aos dispositivos da Constituição. Entendem coberto de legalidade o impedimento do ir-e-vir dos cidadãos por manifestantes reunidos exatamente para cometer crime ofensivo ao Estado Democrático de Direito. Pior, porque nem se apercebem esses intérpretes desautorizados dos riscos que sua bizarra interpretação traz consigo. Se alguns cidadãos do campo se reunirem em frente aos quartéis para reivindicar a punição do trabalho escravo a que são submetidos, o tratamento cordato, leniente, beirando a cumplicidade, será repetido? O fazer de um dia pode afastar o problema por pouco tempo, sempre que interesses menores prevalecerem. O amanhã pode, todavia, multiplicar e aprofundar a decisão dúbia e a inconsistência de pretextos, não a segurança que a razão fornece.

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