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Contraproducente

Parece-me equivocado o fundamento da justa e oportuna reação das senadoras e alguns senadores, à agressão organizada à deputada federal Marina Silva, também ministra do Meio Ambiente. A reação foi justa, sobretudo por constituir resposta altiva, há muito reclamada pela sociedade. A oportunidade, se de algum modo atrasada, não teria melhor momento para fazer-se, de que a repercussão do linchamento de Marina alcançou. E não apenas dentro dos 8,5 milhões de metros quadrados do território brasileiro. Há a acrescentar, porém, quão arriscado e pueril, além de contraproducente, é o fundamento da resposta. Apoiador da política de quotas, crítico de toda e qualquer forma de discriminação, defensor dos direitos humanos, e cidadão exigente do respeito à dignidade de indígenas, quilombolas, membros da comunidade LGBTQIA+, como de qualquer outra comunidade, considero os riscos de solidarizar-se com a professora e deputada Marina Silva pelos motivos alegados. Meu entendimento é que, vendo na misoginia, no gênero e no racismo as causas das ofensas desferidos contra Marina, acabaremos por engrossar o caldo em que os agressores pretendem cozinhar-nos - os que defendem a democracia e o Estado Democrático de Direito e combatem a desigualdade. Esquecer as verdadeiras razões que movem os agressores e focar nos preconceitos deles, à guisa de condena-los, é negligenciar os interesses por eles representados. Qualquer agente público que tente aprofundar a democracia e propuser a redução das desigualdades não seria poupado. Os oposicionistas, porém, conseguiram obscurecer seus vínculos com o que a nação tem de mais iníquo e indesejável, pelo menos para a grande maioria das sociedade. Aquela porção de brasileiros que experimenta as más consequências do uso dos recursos naturais e sua apropriação por exploradores cujo deus é o mercado e cuja salvação é a acumulação crescente de riqueza material. Quando a pauta dos preconceituosos esconde os interesses em jogo (e isso eles sabem fazer com maestria), e os democratas embarcam na canoa dos Carontes com mandato parlamentar, deixa-se de olhar para a floresta, dirigindo o foco para a árvore em particular. Afinal, a desigualdade é o maior, mais urgente e mais abrangente problema a ser combatido. Por isso, os agressores de Marina conseguiram impor sua pauta e a vontade dos que se opõem à democracia e desejam e cultivam a desigualdade.

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