Todo dia acrescenta nova dificuldade à educação dos filhos. Crianças ou jovens, gostaríamos de transferir a eles valores aprendidos quando nós mesmos éramos menores, deles fazendo as bússolas que orientam nossa conduta. Mesmo sem interpretá-los como intocáveis ou perfeitos, íamos aprendendo que a vida social é muito maior que o ajuntamento de pessoas em permanente e recíproco relacionamento. Quantas foram as vezes em que nossos ouvidos registraram a frase o crime não compensa? Duvido que alguém possa ter número adequado a uma resposta minimamente segura. Assim, crescíamos, enquanto crescia em nós o respeito ao direito dos outro, a observância de regras mínimas aptas ao saudável convívio entre iguais. Se não o éramos de todo, a igualdade constituía experiência na percepção compartilhada de que sempre haverá valores que só aos seres humanos socorrem. Como dizer, hoje, que o crime não compensa, ao testemunharmos o destaque e as homenagens prestadas a indivíduos contumazes na prática de crimes, mesmo aqueles que afrontam a sociedade e os interesses da maioria dos que a constituem? Não pode ser outro o sentimento - a não ser que nojo e desdém podem ser cogitados - do brasileiro digno, diante da presença de um parlamentar condenado pelo mais alto tribunal de Justiça do País, elevado à condição de membro da mais importante comissão especial da Câmara dos Deputados. Por onde quer que tenha passado, o ainda deputado Daniel Silveira não deixou menos que o lodo que carrega consigo, e não apenas no solado de seus sapatos. Não sou eu quem o diz, mas os registros agora conhecidos, antes que seja decretado o silêncio perpétuo sobre as façanhas demeritórias do ex-policial. Note-se que a outorga de uma cadeira na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara àquele deputado dá sequência à concessão (que a OAB diz inconstitucional) de perdão à condenação dele, pelo Supremo Tribunal Federal. Se o decreto presidencial ofensivo ao Estado Democrático de Direito tem agressividade igual às que o deputado cometeu, a indicação pelo PTB e a aceitação pela Casa do Poder Legislativo representam o fortalecimento de atos atentatórios aos mais elementares valores de uma democracia. Mais grave, ainda, se lembrarmos que o partido criado por Getúlio Vargas, reivindicado por Leonel Brizola e posto sob o que de pior o Brasil pode ter, indicou seu filiado para as comissões de Educação, Cultura, Esporte e Segurança. Infeliz da nação que vê autorizadas pessoas incapazes e desinteressadas pela elevação do nível cultural e educacional de seus compatriotas; que se dedica ao esporte de agredir mulheres e pessoas fragilizadas, além de alimentar ideias e práticas de segurança que metem medo aos que se distanciam dele - como seres humanos e cidadãos de boa índole.
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