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Carrascos, não menos

Manaus, já não há qualquer dúvida, investe-se hoje do pior papel na tragédia chamada pandemia. Aquilo que a comunicação chama epicentro do fenômeno. Lamente-se o destino a que as autoridades públicas e seus cúmplices trouxeram a cidade, onde os números tanto assustam, quanto põem à mostra a índole de certa gente. Se chama-los assim não é apenas força de expressão. Erros administrativos, inadmissíveis em quem se credencia a postos públicos eletivos, acabam por tornar-se menores, diante do cenário quase surreal em que vivemos. Não se trata, agora, de reiterar as suspeitas e denúncias de que fulano ou sicrano é incompetente, despreparado, tosco. Essa é verdade já sabida, incapaz no entanto de evitar que pessoas (?) assim conhecidas cheguem às posições a que chegaram. Resta, então, apreciar a conduta desses mesmos agentes, quando novos problemas desafiam – não mais competência, preparo, vocação analítica que se sabem inexistentes. Trata-se de identificar as razões primeiras, e últimas, asquerosamente distantes das que seriam exigíveis de TODOS os agentes públicos. Até prova em contrário, e diante do que se tem sabido sobre o uso da vacina a tanto custo recebida pelas autoridades amazonenses, o imunizante corresponde à guilhotina, aos fuzis, à forca, às câmaras de gás dos nazistas. Nossa surrealidade, ao final, mostra-nos tragicamente criativos: escolhemos nossos próprios carrascos. Alguns (óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues), dispensados de usar outras máscaras, não fosse a que a natureza lhes pôs cobrindo a fealdade – aparente e intrínseca.

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